quarta-feira

Porto seguro

Neste recanto perdido em que ninguém sabe da minha existência e descanso as palavras como ossos e musculos doridos do dia encontro sempre uma paz que noutros lugares se torna uma intempérie. Isto, a propósito do que as letras sempre me fizeram. Me hão-de fazer. Tenho fugido delas como o diabo da cruz. Mas este é tão apelativo como apetitosas são as coisas dificeis e falhas de sal (da vida) as que nos param no colo. Tenho-me perguntado que tenho eu andado a fazer. A propósito do que a escrita me faz. E não encontro resposta. Nem me acho a mim.

domingo

Dores

A propósito de dores. Não as fisicas mas as que açoitam a alma. A propósito de algumas dores serem tão intensas que só se quer falar delas para ver se assim se conseguem expulsar de dentro de nós e perdê-las de vez no achamento. A propósito de algumas dores serem tão intensas que nem se consegue falar delas para ver se assim elas se esquecem de nós. Ou nós do que dói.

O artista

Ainda o Estio vai a meio e já a silly season se encheu de patacoadas, coisas abstractas e sem pés nem cabeça que se querem fazer passar por pretensa arte. Acrescente-se excentricidade. Porque, defeituosamente, acha-se que o artista é um bizarro. Tem que ter manias, tiques, preferências esquisitas que lhe confiram o tal cunho que o distingue dos outros. Quero eu dizer, que a par com a sua mestria terá que como condição básica ser um louco, na concepção do diferente. Porque se for um homem comum, com gostos comuns, com as obrigações comuns de qualquer mortal anónimo, muito se olha de esguelha e se desconfia dos seus predicados para a obra que apresenta.

sábado

Crescer&saber

À medida que a minha pele mingua, cresço por dentro. Creio que nunca houve um tempo em que tanto o encolher como o aumentar se tenham encontrado a meio-caminho, uma quase perfeição entre a natureza e o homem, a jovialidade e a sapiência. Não há génios neste caminho, tão pouco lampadas que se possam esfregar e concedam o desejo de eternamente novo, cada vez mais sensato. Um blogado de mim que me deixa triste, confesso.

sexta-feira

Se fosse eu (mas não sou)

Ainda os blogados de outros que contamos tenham o efeito que esperamos. Para nós mesmos, leia-se, em nosso beneficio. Contradições, somos feitos. A verdade, é que se esperamos que os nossos pares reajam mediante os padrões que ansiamos, onde fica a liberdade da individualidade e o pregão desvairado que cada um é o seu mundo? Chavões, somos feitos. Todos diferentes, todos iguais. Ninguém quer ser diferente nem ser igual.

quinta-feira

Se fosse eu

A propósito de reacções. Das que se esperam dos outros. Das reacções que tentamos provocar ou caímos na expectativa de que as cumpram como se fossem os nossos blogados a funcionar. Claro que é uma fantasia, como esperar dos outros se tantas vezes nós mesmos nos supreendemos com as nossas reacções. Mas a surpresa maior está que sempre dizemos que se fosse eu, reagiria desta maneira. Vá lá saber-se qual...

quarta-feira

Termómetros

Há dermes que nunca aquecem. Não falo de mãos frias ou pés frios. Falo daquelas peles que cobrem o tacto e parece que nada as comove, nada as excita. Quando se cortam, tapam a ferida, não sentem a dor a cicatrizar nem observam o golpe a unir-se de novo. Nunca sei avaliar estas pessoas, quase lhes sinto medo, não provocam o mercúrio da ira mas também não despertam paixões.

terça-feira

Eu(s)

Um dia destes transformo-me (de vez) num dos meus multiplos eus e aí fica arredada a sombra da esquizofrenia. Passo eu a ser um heterónimo dos meus derivados independentes, uma coisa de texto, uma figura de estilo.

segunda-feira

Emendas&erratas

Dos meus blogados do sentir. Retalhos que se podem pegar aqui, desprender dali, alteram-se as condições e mudam-se as emoções. Serei eu outra? Claro. E não. Se a intenção destes pedaços expostos é a avaliação dos meus males e o rasgar caminho para o conhecimento do eu, será legitimo emendar o que já escrevi desde que aqui cheguei. Mas se os sentidos eram os da verdade, outrora como neste instante não há errata que lhe seja aplicável. É que eu não sou perfeita.

domingo

Manipulações (do tempo)

O poder que a virtualidade da comunicação atribui através dos textos postados acaba por fazer de quem os publica pequenos deuses. Alteram-se datas, horas, mexe-se com o tempo, fazendo recuar o mundo na sua giratória, os horizontes adulteram-se em mares de areia e estes em grãos omnipresentes. Guardam-se blogados de vida para depois. Antecipam-se passados como se do amanhã se falasse. Nunca há presente, agora, o já, o sou.

sábado

Putativo

Até que ponto somos blogados daquilo que escrevemos. Até que ponto nos dimensionamos no que tornamos bandeira e cumprimos fora dos pedaços de poesia aquilo que subscrevemos de olhos fechados como certo, correcto, justo. Até que ponto é a escrita um acto de justiça e compromisso. Até que ponto enganamos quem nos lê tão fiável é o verbo com que nos defendemos num escudo de invisibilidade visível. Até que ponto é grave enganarmo-nos. Esse é o meu pedaço de receio.

sexta-feira

Ideais

Aconteceu-me olhar as folhas à espera de mim. Visualizá-las plenas das minhas letras. Todo o texto acertado às margens, a pontuação rigorosa com os espaços do respirar. Intenções designadas pelo punho, saber dizer o que quero e querer que me entendam. Depois, nada escrever, achar que há palavras que ficam mais puras quando apenas idealizadas.

quinta-feira

Aprender a escrever

De onde vem esta coisa que sai pelos dedos, se apresenta como frases impressas a negro por dentro visualizadas nos olhos fechados do dormir e do acordar e me impele a escrever? Onde aprendi a juntar letras e a formar palavras e destas encher cadernos com muitas folhas que se somasse toda a tinta com que pintei várias voltas ao mundo daría? Tento lembrar-me quando fui criança, menina de escola no 1º dia e parece-me tão dificil que possa ter aprendido tanta coisa... Será que já nascemos com todos os verbos dentro de nós e à medida do crescer estes se nos revelam?

quarta-feira

Juízes

Oficialmente entra-se na silly season. Como se do resto do ano houvessem nestes blogados pedaços de juízo. Antes, refira-se, encontram-se pedaços de juízes tão cegos como toupeiras já que as considerações sobre terceiros são adiantadas sobre quem não conhecem, nunca viram, nunca ouviram o tom da voz. Rápido e curto é este o crime da virtualidade.

terça-feira

sábado

Blogados de vida&morte

Vão-se os de nome. Vão-se blogados de vida na vida do que partiu. Renasce-se em cada memória, diz-se eu fui assim, eu era assim naquele tempo. E enterra-se o que se foi na medida de que reviver também faz sentir morrer por várias vezes.

sexta-feira

Again and again

Houve uma altura em que acreditei que as palavras faladas eram a coisa mais bela e pura do homem. Depois, tornei-me crente no silêncio, no guardar as palavras e usá-las com a parcimónia e importância devidas para a ocasião. Agora estou na fase das palavras escritas. A valoração do que fica desenhado na folha. Não para a posteridade. Mas para mim mesma: lembrar, caso o esqueça porventura, que um dia acreditei que as palavras faladas eram puras e belas, depois o silêncio e por fim o registo.

quinta-feira

Amadurecer

A medida do tempo proporciona o alargar das vistas. E ao mesmo tempo o encolher do nosso mundo. Selecções.

quarta-feira

O amigo do amigo

Não sou amiga dos amigos dos meus amigos. Sou amiga dos meus amigos. Porque os amo. Os amigos dos meus amigos não os conheço de parte alguma e o pouco que possa ter-me relacionado com eles tornaram-me sua amiga. Como amiga dos meus amigos. Dos outros são-me perfeitos desconhecidos na medida dos laços afectivos. Não os considero melhor, pior só porque são amigos dos meus amigos. E também os meus amigos não deixam de ser os meus amigos só porque têm amigos que não são meus amigos. Nem nunca o serão.

terça-feira

Corre

Escapam-se-me os dias entre olhares profundos para o que fui, o que sou. Pedaços de escrever que aumentam como uma manta tricotada com os sentidos. Nem sempre meus, sempre emprestados a quem mos rouba nas noites de insónia ou em pesadelos transformados em letras que julgam tão verdadeiros e por isso, ficcionais. É a correría do tempo em que os eus me disputam levando a melhor, eu longe, fim da linha.

segunda-feira

Balanço

Recolhidas as palavras de há um ano, houve mudança capaz de me fazer escrever diferente e ter radicalmente mudado o que penso? De modo nenhum. Antes se agravou numa convicção de que a cobardia não escolhe virtualidades onde supostamente as gentes deveríam ser melhores por não necessitarem do escudo ou arma de ataque como sucede na selva real onde nos debatemos por marcar território e não ser refeição de hienas. Mas se assim é, de que vale permanecer nestes blogados do sentir onde o meu sentir chega por vezes já em sangue? Masoquismo?

domingo

Dois mundos

Que mania da frontalidade! Eu, contra mim! Se destes blogados me iniciei para o caminho do auto-conhecimento porque insisto em querer mudar o mundo? E ser igual à noção do que se é numa correspondência irritante de que a verdade é-o em qualquer parte? Refiro-me bem entendido, ao mundo dos blogados e ao mundo das realidades.

sábado

O livro das caras

De repente apareceu a magia de todos serem amigos de todos. São blogados de pura imaginação em que o que conta é o número reunido e não quem se conhece efectivamente. Parte-se da idéia sublime de que se alguém é amigo de outrém um terceiro será seu amigo também. Coisa bizarra. Tanto mais que neste virtual o que se assiste é a ódios cultivados por quem nunca se conheceu.

sexta-feira

Palmas

A propósito de palmas. A propósito de actores, actrizes, desempenhos, convicções. Ainda a propósito de se acreditar no que se vê; Ou no que se quer acreditar. Porque da verdade ou parecer ser quase verdade vai a distãncia que fica igual do espectador ao actor no palco. Quero eu dizer: Batem-se palmas ao que se quer acreditar ser a verdade quando o que mistifica as verdades são os bons desempenhos de representação.

quinta-feira

O fim (não justifica)

Acredito que os meios não justificam o objectivo a alcançar, fazendo alusão a manobras pouco transparentes ou que coíbam outrém da sua liberdade. Mas cada vez mais apoio que o fim, mesmo com intenções puras e nobres, tem um limite de dignidade para acontecer. Que interessa o empenho se o final é um parto prematuro em que nasce defeituoso o que com tanto amor se gerou?

quarta-feira

É bem-feita!

Bem-feita! - Era o que se dizía na infância a quem caía ou sofría outras penas. E dizíamo-lo porque não gostavamos de alguém que tinha sido nosso amiguinho ou porque lhe tinha sido dado o aviso para não fazer isto ou aquilo e ainda assim a teimosia o levava por esse caminho condenado. Hoje não se verbaliza essa satisfação mas pensa-se remoidamente, com gozo mirrado, com desejos de que ainda pior lhe aconteça. Tão pouco se pode dizer que são resquícios de blogados da infância porque exemplos destes concorrem em pequenez aqui pelo virtual.

terça-feira

Alegoria do boato

Primeiro chegaram para ver quem era. Depois constatavam que era agradável ficar. Foram passando palavra. E a fila engrossou. Até que alguém achou que estava a ficar para trás. Passou palavra. De coisa inventada. O boato engordou e os da fila desmobilizaram. Alguns não ligaram, mantiveram-se de pé para entrar. E entraram. Outros, com medo que lhes acontecesse o mesmo saíram sorrateiramente e não voltaram à fila. Espreitam. A casa continua a mesma. Continua a ser agradável lá ir. Mas só dá atenção aos que ficaram de pé.

segunda-feira

Aprendendo

Um tempo para começar, um tempo para aprender e outro para despertar para os factos. Aqui mesmo, neste mundo invisivel é palpável a intenção de conquista, de destronar outrém, de o ostracizar se possível. Tão silenciosamente como a morte a chegar, fria. Mas sacuda-se esta tenebrosa imagética e o que se tem? Despertar por ter aprendido os factos. Pois é: É que o aprendizado é para todos e quem presta atenção nas aulas é que tira boas notas.

domingo

Ídolos&fãs

Não os tenho. Nem mesmo lembrança de os ter tido na adolescência. Comovi-me, aplaudi e gritei como todos os demais da minha idade quando o produto era bom. Saio fora de moda quando mantenho ainda o apreciar, a pele arrepiada, por coisas que (ainda) me dão gozo. Mesmo que já ninguém as lembre. Nunca fui fã, nunca idolatrei. Gostei, gosto muito. Tanto, como o silencío de um amor secreto e proibido.

sábado

Seguidores

Não critico nem tal podería fazer por não ter entendimento para me deitar a uma maré e deixar-me ir. Porém, nesta coisa dos blogados já me habituei à idéia de que muito do que é desviado e censurável é a banalidade do hábito, da coisa comum. Parece não ter bastado que se publicasse as preferências de leituras e visitas, impõe-se que se arraste para todos verem quem segue quem. E acabo a constatar que é mais do mesmo, uma nova moeda de troca que parece ter surgido para equilibrar a inflacção das escolhas: Se tu me segues eu sigo-te; Se te atiras ao precipicio eu caio também; Se é altura de juntar o rebanho não serei eu a ovelha negra. Vem-me à memória uma música que tanto gosto... Aprende a nadar companheiro.

sexta-feira

Glórias ou nem tanto

A propósito de solidão. Da glória da solidão da escrita. Blogados de âmago que se atiram à folha branca, implacável. Uma folha tão cruel quanto um espelho que revela todas as imperfeições da carne, das feições. Há quem considere que é exactamente o contrário, essa brincadeira de fazer de conta que se é outro não permite a quem lê descobrir as borbulhas, as gordurinhas, o mau carácter. Não o creio. Da verdade da escrita, mesmo sem a desvantagem diarista, muito se alcança do dono da pena.

quinta-feira

Re(começar)

Recomeçar de onde se deixou. Qualquer coisa. Pegar no que se largou e achar que quando se voltar se reinicia. Não estou tão certa disso. As vontades, o empenho, o olhar terão mudado todas as circunstâncias. Até a habilidade das mãos terá outra direcção, outro tino, umas vezes pior outras melhorado. Talvez se comece de novo e isso em definitivo, não é recomeçar.

quarta-feira

Lusa paixão

Da raça, era. Agora parece mal dizê-lo. Eu sinto-o, sem vergonha, de peito feito e aberto a quem me olhar e me quiser colocar uma legenda de fascista. Não o fui quando era cómodo sê-lo, não o serei porque não acredito em cercear pensamentos no corpo preso, na boca calada ou permitida apenas ao politicamente correcto. Da raça lusa porque é desta maneira que sou portuguesa, com primor nas caravelas, nos aventureiros, nos de olhos rasgados a horizontes que não se víam nas linhas.

terça-feira

Eu, Túlia

Não gosto quando me engano. Não gosto quando tenho de pedir desculpa. Mas faço-o. Da forma mais orgulhosa que consigo em transmitir esse pedido de perdão, de cabeça erguida, reconhecendo o meu erro, a minha teimosia. Nunca tentei disfarçar um pedido de desculpas. Aliás, acho que não sería capaz de o fazer, acabaría a gaguejar, a meter os pés pelas mãos e a irritar-me profundamente comigo mesma por estar a ser o que não sou. Por vezes crua, brutal. Sou eu.

segunda-feira

Oportunidades

A propósito de ocasiões, negócios que surgem quando menos é expectável e se tornam irrecusáveis pelo encanto. A propósito de relações, algumas como negócios de oportunidade, um agarrar porque dá jeito, um prender porque atrás vem mais alguma coisa, algum lucro, um proveito que mais tarde saberá a demasiado ou a incómodo e se arrota com azia. A questão é saber quando esse momento tão oportuno surge, evitá-lo, ou na melhor das oportunidades virá-lo contra o oportunista.

domingo

Reconditamente

Reconcilio-me aqui. Zango-me comigo mesma aqui. O melhor escape é poder fazer o barulho todo que me apetece ou manter-me no silêncio sem ter que atender a respostas, explicações. Ir e aqui regressar quando apetece, quando os bocados dos meus sonhos se misturam na realidade ou não completamente nesta ordem, o exilio é a melhor paz.

sábado

Gracinhas

Sendo o meu mundo feito de letras sería normal não ligar aos números. Mas a minha relação com eles é cabalística, associativa. Na verdade, infantil. Como hoje. A quantidade de dias igual ao número dos meses passados. E no próximo mês será a sete que fecharei este circulo mágico ao mês de Julho e assim por diante. Como se esperassem um pelo outro para se fortalecerem. Como se assim eu descobrisse um poder maior nos algarismos idêntico ao que atribuo às letras. Isto não passa de blogados de alucinações minhas, um viajar pelas cogitações pueris de que tudo tem uma razão de ser.

sexta-feira

A noite e as noites

À noite. Seja na noite da noite seja na das manhãs. É sempre lá que encontro os meus pedaços e os junto todos num braçado e volto a distribuír pelo meu corpo, cada blogado no seu espaço devido, a cumprir as funções para que nasceram. É à noite que eu sou eu e me dou com os outros, que eles partilham a sua vida comigo, que falam para o meu reflexo na tela do computador ou para o sombreado das minhas pestanas a recortarem no papel branco de linhas azuis fininhas. À noite tudo se resume, tudo se percebe, tudo se agiganta. Não há momento do meu dia que seja tão poderoso quanto o encontro do verbo comigo.

quinta-feira

A quem interessar

Sempre me incomodou os destinos das obras de grandes artistas, o que eles escreveram ou pintaram e os seus últimos desejos como legado doloroso a quem cá fica para pôr um fim sem rasto ao que de suas mãos nasceu. Mais que um incómodo acho que se tornou em mim uma perturbação: Porquê se essa foi a sua vida matá-la por duas vezes, seja na morte do autor seja no suicidio da sua obra? Mas quando penso o que serão destes blogados se alguma coisa intempestiva me acontecer sem eu ter tempo para determinações, vejo-me a caír na mesma tentação de pedir que queimem tudo sem deixar vestigio.

quarta-feira

Bocados de mau feitio

A propósito de famas. A propósito de nos tornarmos por vezes, na fama que fazem de nós. E não me remeto ao velho ditado popular do já que tenho a fama terei de ter o proveito. Mesmo que este consolo seja envenenado. Mas como parece ter de cumprir-se um destino, autoinflige-se, nem sempre arcando racionalmente com as consequências. Isto tudo a propósito de me chamarem mau feitio. Que acho que o não tenho. Óbvio. Mas tenho a noção de que é diferente e como tal poderá ser dificil. Mas daí a assumir um feitio distorcido, atarrachador, niquento e repelente só para cumprir o jus à boca cheia, não me parece que trouxesse vantagens aos bocados do meu sentir. É que importante mesmo é que se cumpra o que se diz com o que se faz, o que a boca cospe com o que a boca beija.

terça-feira

Perguntar

A propósito de perguntas que se fazem aos outros naquele tom social de inicio de conversa mas que na generalidade não escutam a resposta. E no seguimento, já engatilhado o tema, a continuidade das perguntas com o intuito de falar do que se quer e não do que se quer saber do outro. Aliás, ao outro responde-se um pois, e segue-se adiante com o que interessa vazar. Será falta de educação, desinteresse, necessidade de um ouvido atento? Ou maldade? Seja o que for, recuso-me a participar destes jogos e geralmente fico calada para não alimentar estes bocados de umbigo.

segunda-feira

Dia 1

No dobrar do ano velho um novo ano que se abre a mais blogados, haja sentir para os sentir e sentir para os escrever. Nada mudou. É só o tempo numerado que engana. A quem se quer enganar. Apesar de não incorrer nesse logro, não me convenço desta permanente lucidez. Também ela me serve de tinta ou de justificação para coisas mais ousadas como falar de mim mesma. Ou de outros. Dizem que todos de mim com a mesma marca, mas não sabem de nada, essa é a verdade. E ainda bem que assim é.

domingo

Maio maduro Maio quem te pintou

Mesmo a queimar os últimos cartuchos uma palavra especial para um mês especial. Pelo que significa. Porque sempre imagino que é em Maio que as pessoas se apaixonam verdadeiramente e nem sequer quero saber que isto é apenas uma presunção encantatória minha. É assim aqui nestes blogados porque eu quero que o seja. E porque me é vital continuar a ter invenções destas para encarar a realidade. Sem direito a meses especiais.

sábado

Celebrar

A propósito de comemorações. Efemérides. Que muito mais do que já ter passado um ano aqui a debitar, congratulo-me de ter tido e continuado a coragem de me interrogar. Passou rápido. Provavelmente se tivesse obtido respostas para todas as minhas dúvidas estes blogados já teríam passado à história. Àquela de ficção, digo. E o curioso deste aniversário é que isto tem muito mais de real do que inventado. Quem diría...

sexta-feira

Silly season

Aproxima-se a silly season. Cada vez a chegar mais cedo fruto de uma incapacidade para determinar as estações do Ano e deixar-se correr a pena ao sabor de um Estio em Fevereiro ou de um Outono demasiado fresco em finais de Junho. Deturpa-se assim o conceito britânico entre as temporadas futebolisticas, passando muito mais pela imprensa rosa em que o primado é falar de coisa nenhuma sem interesse algum e desempenhado por cabeças ocas como amibas. Para os blogados tanto faz. Os retalhos destes sentidos - leia-se meus - sempre serão a falta de certezas sobre o irracional das emoções. É disso que os bocados deste meu ser falam. De mim para mim.

quinta-feira

Deve ser

Deve ser por não se tratarem de estórias ou elaborar-se a história das estórias que por aqui permaneço. Orgulhosamente e quase isolada do resto de blogados que embora sabendo, nada me dizem, nada me alteram, nada me conformam nesta vida paralela que ao longo de (já) muitos dias aqui venho desfiando. Das ficções retiro o prazer dos floreados mas igualmente o papel único de comandar o destino dos que por aí evoluem, pondo fim às suas existências mais ou menos turbulentas. A verdade é que lhes sugo o sumo todo e casca no fim, nem mais uma gota se lhe aproveita. Deve ser por isso que aqui não havendo fado, a tragédia se desenrola de per si e eu, triste autora, vou dedilhando notas à medida da minha própria evolução.

quarta-feira

Justificações

A propósito de necessidades. As de aqui vir e escrever. Também as de descarregar e aqui vir botar discurso. As de tristeza e encarar este branco pardacento como um muro de lamentações. Na alegria também, o ufano da coisa ao ver evoluír a minha felicidade no correr das linhas descritas rápido e disléxicas. Tudo servirá de justificação para aqui (sempre) regressar. Deve ser por isso que ainda não queimei de vez esta manta de blogados. Sentimentalismos à parte: Que outra explicação havería?

terça-feira

Estádios

Não me tornei descrente da raça humana. Sou cada vez mais cautelosa ao invés. Talvez até, receosa, palavra estranha em mim, que encaro não ter medo de nada. Arrisco desconfiada quanto ao homem, às suas intenções verdadeiras e directas entre o dizer e o agir. Defensiva. Tento nada sentir para não me magoar, não me desiludir. Outra e outra vez. E no entanto, surpreendo-me comigo mesma, como consegui chegar a este estádio de nada sentir.

segunda-feira

Em crescendo (ou talvez não)

Quando era garota falava muito sobre mim. O que sentía. Era importante explicar-me e mais importante ainda que os outros entendessem o meu sentir. Em adolescente repartía o ver e o sentir entre o falar e o desenhar ou escrever. E era importante saber que os outros queríam saber de mim, do que eu sentía. Nos dias de hoje pouco falo do que sinto. Há vezes que até mesmo sob insistência não conto nada. Mas os blogados aumentam de dia para dia.

domingo

No mundo da Lua

A propósito de tradições. E a propósito da chuva e da noite. E a despropósito o tempo que agora se sente, um quase Verão, um quase Outono, uma incrédula constatação de que as estações do Ano são mera designações académicas e que nada é o que já foi, nem o expectável pode na melhor das hipóteses e do bom senso ser previsível. Amanhã pode estar um céu azul e cheio dos cheiros de maresia e o meu coração engelhar-se num frio rigoroso. Ou chover como ontem e como hoje ameaça e eu perder os meus pensamentos através do vidro das janelas só porque vi uma joaninha avermelhar corajosa entre o pardo dos dias. A propósito das tradições serem uma figura de estilo e a lembrança do que os meus antepassados disseram aquando o homem pisou a lua terem alterado o rumo das estórias fazerem-me sorrir.

sábado

Definições

A chuva cai na mesma intensidade da noite profunda. Dois bocados do meu prazer. Dois bocados estranhados pelos outros que não conseguem encaixar no meu perfil exteriorizado uma coisa tão bucólica, intimista, quase gótica como a chuva e a noite. Será esse o cerne da questão, a minha luta de opostos ou a convivência nem sempre pacifica de extremos que me completam e aliás, definem.

sexta-feira

Então???

Ainda pegando os blogados abaixo e sabendo de antemão que isto é tarefa que nunca há-de alcançar o fim, qual o propósito de manter esta loucura? Não sei a resposta. Se me faz melhor, mais reconhecida nas minhas fraquezas, mais exigente nas minhas afirmações e ainda assim a saudade de poesia se manifesta tanto na hesitação dos sentimentos, melhor sería racionalizar o acto e acabar de vez com isto. É sabido que não chega a lado nenhum. Ou pelo menos para além de mim. É então que constato a leviandade da escrita. Maldito vicio que me estás nas veias.

quinta-feira

Tapa, destapa

Estranho encanto este. Doba-se a lã que há-de tecer as linhas que fazem crescer estes blogados, um sem-fim de tricotar que nunca há-de ter tamanho bom para aquecer. A alma, diga-se. Esta coisa do retalhar os sentidos - e o que é isso do sentir? - tem o dom da tarefa inacabada por toda a eternidade, que quanto mais se explora mais se descobre e mais se cava profundamente num ciclo insano que volta ao inicio e recomeça dos pés. Manta curta, pois.

quarta-feira

Retalhos (nem sempre meus)

A quem aproveitar estes blogados para achar que de mim sabe, levará para além de mim. Levará perguntas essencialmente. Das minhas e das que os desviados heterónimos tentam colocar. Que por enquanto, aqui, tem sido lugar mais de eu que dos outros e de alguma forma, parece ser esse o segredo para os manter afastados. Encher tanto com coisas minhas que pouco sobeja para os outros levarem um retalho que seja. Porém, tentam. E ao longo destes dias largos apercebo-me de alguns textos redigidos pela mão alheia, disfarçadamente, não vá eu enxotá-los de vez. Como podería? Sería amputar-me mas também não pretendo a aniquilação nem deles e muito menos a minha.

terça-feira

Ainda

Ainda tenho ternura por estes blogados. Ainda lhes sinto a falta, mesmo que os dias passem ou épocas de fastio me atirem para outros recantos. Ainda me zango comigo por fazer tanta pergunta e nem sempre ter respostas. Ainda me encanto por não ter respostas para tudo. Ainda acho que vale a pena o tempo a que me disponho a retalhar os sentidos. Os meus. Aqui é lugar meu. Mesmo que do meu sentir haja uma multidão que faz parte. Ainda me confesso, condeno e absolvo. Ainda me construo e disseco e analiso e chego a conclusão nenhuma. Que não deixa de ser uma conclusão. Mas à medida que os pedaços se unem outra eu me encontro e pacífica, aqui sempre retorno como casa minha.

segunda-feira

Dos pedaços da manta

Ao correr da pena tenho deixado escapar linhas de raciocinio, de estar nem sempre minhas, nem sempre concordantes com a minha visão, porém paralelas a estes blogados, umas vezes enriquecendo-os pela diversidade outras manchando o que eu gostaría de manter impoluto. Mas a vida é mesmo isto. Cheia de nódoas, cheia de intenções de limpar as nódoas, engenho bastante para fabricar tecidos onde as nódoas não caiam. Da minha manta de pedaços há tudo. Fá-la colorida e sombria, leve e pesada. Nunca pretendi que aqui fosse um mar de rosas, muito mais das contradições de que sou feita, um misto entre espinhos e açucenas. Só nos dois extremos é que se entende o que se gosta e o que se rejeita.

domingo

Sem explicação

Para além destes blogados há coisas que coexistem que não têm de ser explicadas. E se o fossem perderíam todo o encanto e passaríam a fazer parte deste débito meu. Embora não o vá fazer sería imperdoável não o mencionar. A poesia. A poesia não tem de ser explicada, esmiuçada, compreendida. Tem de ser sentida. Orgânicamente, de preferência. Como um impulso incontrolável ou um vicio do qual não se pode escapar para a cura. Isto tudo para justificar o que tento racionalizar nestes pedaços. A vontade da poesia volta. Apressadamente.

sábado

Malefícios&virtudes do se

A propósito do uso do condicional. Que tal como o nome indica designa estar sob condição. Exemplo: Se eu escrever fico bem. Mas também quer dizer que sob estas condições outras acções poderão ser despoletadas num futuro que se crê mais ou menos próximo. Exemplo: Se eu escrever fico bem e outros poderão ler-me. Ainda a propósito do condicional tão versátil. Se fizer gasto dele não só me submeto à sua vontade mas ganho o poder de condicionar outros. Exemplo: Se eu escrever fico bem e outros poderão ler-me mas isso não quer dizer que me conhecem.

sexta-feira

Agitar

Não há nada que me faça mudar as minhas convicções enquanto principios de conduta, carácter, personalidade, blogados daquilo que compõe um ser humano. Com virtudes e lados feios, não necessariamente nesta ordem nem absolutamente na mesma quantidade. A alternância do bom e do mau está em todos, esse é um pedaço de adn que se adquire e constrói ou se copia e se deixa corroer pela infelicidade. Sou infeliz muitas vezes, tantas outras deixo o meu lado feio tomar conta de mim sem querer saber de nada mais. Sou feliz muitas vezes, em abundância, por vezes quase desesperadamente feliz e igualmente sem me importar com nada mais do que sentir essa bonomia. E se as convicções são partículas egoístas que flutuam cá dentro de nós também o são a felicidade e a tristeza. O mal é quando assentam e ganham um fundo.

quinta-feira

Sabe-me bem (muito bem)

Sabe-me bem ter descoberto que não há cansaço que me tombe aos ombros nem às mãos, tão pouco aos olhos, quer sejam vigis quer seja no saborear da palavra cerrados, quando as horas se correm como contas de um terço velado e orado no esfregar da ponta dos dedos. Sabe-me tão bem ter descoberto que escrever nunca me cansa, é uma manta de blogados que construo infindável e arrasto para onde quer que vá.

quarta-feira

Sabe-me bem (ainda)

Deve ser por isso que esta manta acrescentada se tem esticado ao longo dos meses, quase a atingir um ano de manufactura, tantos dias de considerações, muitas verdades, o olhar de longe o amarelo pardo das mentiras, o inconsolável do fast writing for easy takeaway... Sabe-me bem não ter havido nestes retalhos de mim uma quantidade de reticências que me levasse a concluír ser este um ponto de confronto com os meus pedaços. Que as há, inevitável durante tantos dias nunca as pontilhar. Mas foram quase sempre perguntas a que me dispus a procurar respostas e não um acerto com o que sou ou uma espécie de autoflagelação por me ter portado mal. Sabe-me bem estar aqui passado todo este tempo. Sem reticências e sem explicações para as causas.

terça-feira

Sabe-me bem

A verdade é que sou egoísta. Pronto. É verdade. Sou egoísta porque me sabe bem chegar aqui, descalçar-me, subir as pernas para o corpo e enrolar-me nas folhas dos blogados, nesta manta de tantos retalhos que tenho vindo a construír aos poucos, nem sempre quotidiana, nem sempre pacifica. Sabe-me bem aquecer os pés nas letras, saber-me sózinha comigo mesma, não haver visitas a lembrarem a compostura, o atino. É egoísmo, puro. E tão saboroso estar acompanhada de mim.

segunda-feira

Ferrugem

Há dias constatei o facto da poesia andar a faltar na minha vida. A que escrevo bem entendido. Da outra vou tendo nem sempre a que mereço, nem sempre a que trabalho para ter, nem sempre a míngua que a generalidade do mundo tem e eu, rica, lá vou dedilhando poemas entre os olhos e a lingua como se fizesse alimento para me nutrir. Mas a que descrevo, a que desfio, essa tem andado arredada dos meus dias e das minhas folhas brancas. A poesia é como o amor. Se se deixa de fazer deixa de apetecer. Enferruja-se.

domingo

Alucinações

Há gente que se convence das coisas mais mirabolantes. Imaginam imagens no fisico e no intelecto que são tiradas vá lá saber-se de onde, provavelmente do que anseiam assim seja, provavelmente da realidade em que vivem, provavelmente um mundo de associações onde nada mais cabe do que exactamente aquilo que construíram numa alucinação, já que confrontados com o modelo original nada mais se saca do que uma valente desilusão. Mas o pior nem sequer é esse desapontamento. É acharem que a culpa é dos que idealizaram não serem exactamente como se convenceram que eram.

sábado

O que quer dizer

Perdão quer dizer desculpa. Que se passa uma borracha no assunto. Que já passou. Mas perdoar não significa esquecer. E é neste ponto que não existem blogados. Apenas o todo. Não esqueço nem perdoo. E se o tentasse fazer faría de mim um bocado, um lado, uma metáfora. Aí não me perdoaría de todo.

sexta-feira

Atalhos

As fotografias antigas têm o doce encanto tão semelhante aos blogados. Daquele tempo, claro, que vê-las é recortar sons e sorrisos e aportá-los a esta contemporaneidade por vezes insuportável de levar no ritmo sabido dos dias. A rotina mata-me. As fotografias antigas para além do reviver de situações têm o condão de alterar o que já se sabe, são atalhos à avenida principal, direita, asséptica e desprovida de segredos. Os atalhos podem ser, sim trabalhos, mas o encanto está em superá-los.

quinta-feira

Materiais

A propósito de correntes, de diques e de torrentes. A propósito do que está (quase) a tornar-se um hábito, ou seja, de estar fora deste blogados por dois, três dias e depois como a imensidão do mar me torna praia e sinto a necessidade de aqui vir e ficar alagada. De conchas, restos de navios, um pedaço de vidro. A propósito do que as letras possam ser, a sua versatilidade e maleabilidade. Acho que não há material mais dúctil...

quarta-feira

Vozes

Da correría dos dias é bom ter um refúgio onde desaguar. Saber que mesmo sem retorno de voz há a nossa cá por dentro que ainda não teve vontade de se calar. Até quando o ruído de fora se torna insuportável.

terça-feira

Maduro por dentro

Há aqui uma estranha calma no confronto entre a realidade e o abstracto do virtual. Falo de mim também. Do que me apercebo em mim no mal e no bem e de como entendo quão erradas são algumas das conclusões das quais faço parte desse júri. Por vezes condeno-me. E algumas vezes até aprendi a lição e emendei-me. Até por vezes me lembro no acto de esticar o dedo e apontar do erro em que poderei estar a caír e arrepiando caminho, não o faço. Virtuosidades do virtual? Nem tanto. Talvez o fruto que há em mim amadureça e eu me aperceba de quais são os meus verdes e os meus comestíveis.

segunda-feira

(...)

A propósito de parentesis. Do que significa. Neste caso, extracção. Ou melhor, intervalo, interregno, tempo. Aliás, demasiado tempo. A propósito de confissões e de poesia. A propósito destes blogados e do todo da poesia. Que não o tem sido. Há muito tempo que não me dedico à poesia. Só a estes intervalos.

domingo

Arrumações

Por vezes sinto que toda a vida estes pedaços de mim andaram à solta cá por dentro, fiapos que se engataram em farpas ou pregos. A minha memória. Ou a minha vontade. Depois que os blogados se materializaram em palavras, linhas e mais linhas de palavras que supostamente se ordenam num raciocinio (mais ou menos) lógico, tudo parece que sempre se apresentou arrumado. Como se eu não tivesse dúvidas. (Quase) Como se fosse perfeita. Irónico. Que se o fosse para que serviríam estes farrapos?

sábado

Preverso

Há uma preversidade nesta paixão dos blogados. Porque primeiro só pensamos neles, depois esgotam-nos. E por fim não podemos passar sem eles. A que se deve este carrossel ainda não consegui perceber. Mas é quase assustador saber racionalmente que acabamos por infligir dores a nós mesmos que bem podemos dispensar. Basta querer. Mas o problema está aí mesmo: Força de vontade para o querer.

sexta-feira

Sem explicação

Porque será que com Maio o peito se enche até quase estourar num sentido em que toda a vida parece ser mais fácil, melhor, quase dócil ao nosso manejo... Não sei a resposta mas abstenho o ponto de interrogação porque não quero respostas. Os blogados chegam, obrigado.

quinta-feira

Caír&crescer

Para começar implica forçosamente o terminar de alguma coisa? Se tiver de iniciar-me noutros blogados terei a imposta necessidade de liquidar estes? A desenfreada procura da felicidade faz esquecer muitas vezes as simples coisinhas que nos deleitaram quando o nosso mundo era exactamente esse mundo pequeno e redondo. À medida que essa bola vai aumentando de volume diminui por vezes o sentido que demos ao ponto de partida. Acho que não sería capaz de me esquecer deste pedaços, seguir caminho como se nunca tivessem estado aqui, linha a linha a fazerem uma trama forte como uma rede. Que me tem amparado em algumas alturas de euforia e queda.

domingo

Curta, curtíssima

A propósito de sinais exteriores de riqueza: O riso. E mais não digo.

sábado

Foram cravos, foram prosas

Cravos para que vos quero: Para enfeitar, porque o vermelho vai sempre bem, porque tem de ser neste dia, porque contaram que houve armas que neste dia em vez de balas dispararam cravos, porque que se quer parecer livre, porque se quer ter a melhor imagem. Tudo blogados, rotos, esfiapados de intenção na alma, pedaços de cópias decalcadas até ao enjoo. Tudo letras à solta, sem jeito, sem mão, sem doer e sorrir. Sem se saber nada de nada.

sexta-feira

Recados

Ler-me é fácil. Basta não usar de pretensões quanto ao que se pretende ler para além do que está escrito. Conhecer-me é dificil. Basta não usar dos mesmos meios com que se faz a aproximação a outrem. Porque do ler se conhecem muitos de mim. E de mim se lê muito do que se gosta nos outros.

quinta-feira

Um dia...

A propósito de Um dia. Um dia faço e aconteço. Um dia destes vai ver como lhe mordem. Um dia perco a paciência. Um dia há-de vir à procura e não encontra. Um dia torce a orelha e não deita sangue. Um dia vai saber com quantos paus se faz uma canoa. Um dia não são dias. Um dia negro. Um belo dia. Um dia de cão. Um dia de merda. Um dia será tarde. No meio de tantos dias porque será que não encontro um diazinho só que não surja sem ser em tom ameaçador, admoestador, quase fatal direi? Um dia faço um dia de frases em que todas se iniciem Um dia lindo em que tudo correu bem e foram gentis. Fim. Qualquer dia.

domingo

Poetisar

Cedo do dia as mãos começam um labor que não se estaca com o recolhimento nos bolsos. O trabalho prossegue em pedaços entremeados pela concentração do comezinho e o orgasmo da imaginação, que esta última é amante exigente e pede monopólios. É cedo do dia e gasto do todo de mim pequenos pedaços do sentir esvaíndo-me em teclas que me ferem os olhos a negro das letras, o branco do fundo é cenário, o coração é o mesmo de sempre, todo vermelho por tanto sentir.

sábado

Tic-tac

Estica-se como plasticina, elasticamente no desespero das contrariedades do que se faz, blogados de obrigação forçada. Doutras, mirra nas mãos como água que evapora. O tempo. O tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem. E eu respondo que tem nada quando gosto e tem o Universo quando me aborrece.

segunda-feira

Desafios

É lugar comum dizer-se que somos desafiados todos os dias. Que a vida é uma competição. Que ao exigirem-nos nos exigimos. Estes blogados são o meu exemplo pessoal desse desiderato. Mas sería falso legendá-los como o meu maior desafio só porque falo de mim, das minhas opiniões, das minhas criticas e do meu olhar sobre a sociedade virtual onde estes retalhos se manufacturam sobre outros. Não deixam de ser importantes, mas o primordial é viver para fora desta trama e conseguir fazê-lo orientada pelos principios (meus) de que aqui falo.

domingo

Prato do dia

Não faças aos outros aquilo que eles não são capazes de solidariamente fazer por ti.

sábado

To be or not to be

Por vezes não basta ser-se quem se é, tem de se incrementar com o que esperam que sejamos.
Estes blogados acrescentados fazem muito dos que connosco partilham a vida, seja nas salas de trabalho, seja ao balcão de um bar. Mas não passam de ombros que roçam nos nossos, por vezes encontrões que não se consegue evitar. Andam sempre lado a lado, nunca abraçados ou nós a sentir-lhes o calor. São pedaços de faz de conta, um tecido muito bonito mas sem qualidade nenhuma.

sexta-feira

Blogados de palavras

Saber das palavras a corrente que arrasta seja na força da exultação seja no poço da mágoa, atribui-lhes a textura de uma pedaço de imagem. Deixam então de ser blogados, mas nunca retalhos abandonados no exercicio do que não se fruiu, antes deduções ou intuições que libertam elos ou os fundem ou os massificam num cadeado. Muito do que não se profere acaba a ser o peso do ferro, o peso da âncora, o peso da bigorna desperdiçada pelo seu mister.

quinta-feira

O desejar&o atingir

A propósito do som e do silêncio. A propósito da multidão e do isolamento. A propósito de se quererem ambas as coisas, não necessariamente nas alturas justas e não necessariamente chegadas nas alturas pedidas. A propósito daquilo que tanto desejamos e a propósito de quando as temos na mão deixarem de ser o objecto do nosso desejo. Porque é bom alcançarmos o que ansiamos mas o fantástico é o caminho que dura até lá chegar. Digo eu, a propósito de não gostar de coisas fáceis.

quarta-feira

Costurar (a lembrança e o perdão)

Enquanto houver sopro de coragem para me encarar nos blogados que me fazem aqui hei-de vir. Voltar sempre, sempre, mesmo que contra mim escreva, que afinal errare humanum est. Dos enganos fico sapiente, se bem que de muitos só por breves dias, a alma gosta de borrachas e só as coisas profundas deixam o sulco do imperdoável. São nestes bocados, esfarrapados, que mais aprendo, que mais costuro as minhas falhas. Há porém, uns que de tão esgaçados nem sequer me lembro deles.

sexta-feira

Apagar

Dos blogados da vida os que mais custam a esquecer são os pedaços de caminho encolhido nos receios, nos pavores, nas deduções enferrujadas pelo achar que do outro lado haverá pedidos, compromissos. Não se apagam palavras. Engano de quem assim o ache. Até podem nem constar mais na sua forma escrita. Mas depois de terem sido ensaiadas, soletradas, dificilmente haverá pedaço de amnésia que as limpe. Isto a propósito do tempo passar. Isto a propósito da memória não ter tempo. Não esqueço os blogados do que se fez e os retalhos da minha mágoa dissipam-se num pano maior, o do passar a vida, mas sempre serão nitidas as costuras que os unem.

quinta-feira

A pensar morreu...

Lá diz o velho ditado e com todo o acerto. Que destas coisas de se achar que se pode pensar pela cabeça dos outros se vai direitinho a outro dizer popular cheio de razões: Saír o tiro pela culatra. Ou seja, se se acha que se pode decidir pela cabeça alheia sem consulta e aceitação prévia é bem capaz da coisa correr mal e explodir nas próprias mãos o que se entendeu não fazer diferença alguma. Mais ainda, se se socorrerem de justificação para si mesmos ao pensaram que agiríam bem ao determinar fazer, executar, alterar sem perguntar nada. Isto de se achar que os outros não se importam é mesmo de jerico, salvaguarde-se os asininos, que a pensar morreu o burro que se achou esperto.

Paciências

A propósito de paciência. A minha paciência encolhe à medida do aumento dos anos. A propósito de saber o que se quer e o que se rejeita ou até ignora. A minha paciência refina-se em cada bocado de contemplação e neste exercicio cada vez mais treinado, os bocados importantes tornam-se sumo, dos outros fazem-se cascas. A propósito de acessórios. Dispenso-os. Prefiro a inspiração da minha pequena paciência.

quarta-feira

Consagrações

A consagração de quem escreve faz-se todos os dias no jeito das letras deslizadas a tinta. Esse momento a seguir ao prelo é efémero, fugaz, leve e venenoso. Mas do engano faz-se a fama e se o amor não tingir o dia comum nas palavras que ensaia no papel branco triste herói será aquele que se julga eleito ao publicar.

domingo

Carências

Há muito que aqui não vinha. Não por me esquecer destes pedaços ou até de tentar fazer de conta que eles não existem. Foi outro comezinho a causa maior, uma cousa invisível que espreme os dias até se olharem no fundo do copo e com espanto, atingirem-nos apenas a gota. Depois as perguntas, esses retalhos de interrogações que nos atiram à parede: Que fiz eu de tão importante hoje? De tão grandioso que não tive tempo de me sentar, olhar lá para fora, escrever um pouco, viajar nas linhas de outros? Há muito que por aqui não confessava a minha carência de bocados apreciados no gozo do tempo demorado, deleitado, esmiuçado. Fizeram-me falta.

Sinais de silêncio

A propósito de silêncios. Mais uma vez. A propósito de por muito blogado que aqui derreta e se faça numa poça dum todo nada me fará entender a mutez sem argumento ou explicação prévia. Em tempos, aqui afirmei que estes retalhos poderíam a ajudar-me a ser melhor, por neles reconhecer as minhas fraquezas. Mas não encontro escrita possível que me suavize a incompreensão de um silêncio letal. Tão mudo que se um dia houver grito não saberei do que se trata.

sábado

Idos&Ganhos

O tempo leva os bocados de tempos bons, de sorrisos, de movimentos graciosos, da agilidade nos amores. Desenvolvem-se outras artes, saboreiam-se blogados de literatura, blogados de conversa parada em horas de mútuo prazer, goza-se o amor falado, o sentido imaginado, o corpóreo sem pressa, o riso justo, a graciosidade do afago no rosto. Queixas de um tempo levado. Que dos bocados idos outros se ganham em sabedoria do fazer.

segunda-feira

Do esquecer

A propósito de esquecimentos. Dos esquecimentos da moleza, ou seja, deixar para mais tarde que agora não me apetece, agora não posso. Dos esquecimentos da paga, ou seja, já que te esqueceste agora também eu me esqueço. Dos esquecimentos da importância, ou seja, não estou para isto, não estou para te dar troco. Dos esquecimentos intencionais, ou seja, sai da minha lembrança, da minha vida. Dos esquecimentos do esquecimento, ou seja, houve um tempo em que eu sabía como se era tão feliz com coisas simples.

domingo

Balanços

Num ápice se arrumou o mês primeiro, ajusta-se o dia e a noite, as chuvas pedidas e agora malditas. Num instante aqui cheguei, de blogado em blogado acho-me num pedaço largo o bastante que me diga o que mudou na minha escrita, se deformou ou aprimorou, se dos pedaços pegados algum me fediliza no carácter, se da poética abusei. Ou foi tudo só escrita.

quinta-feira

Ai como custa...

A vidinha é inimiga da arte.

segunda-feira

Palavras e imagens

Frase certa, uma imagem vale por mil palavras. Mas deparo-me com uma mão cheia de palavras que me atingem no peito, na vista e atiram-me para mil imagens. Como um filme que se dispara em stroblight, frames de sentidos, blogados, um todo realmente conseguido pela exactidão da pena.

domingo

Infantilidades

É infantil achar-se que o simples rapinar com sublinhado ao autor original não é pecado. Mesmo atribuíndo créditos a quem de direito. No final, enche-se a boca para alarvoar quem foi que se lembrou de falar de. De mostrar serviço à conta de outros. Do seu trabalho, pormenorize-se. À lupa de blogados acabo sempre a achar que é uma ponta de inveja e muito menos de admiração. É que ao redor do trabalho confiscado enreda-se uma teia de argumentos que tentam destacar quem o fez e porque o escolheu. Enaltece-se. Auto-promove-se. Mandriamente.

sábado

Quanto mais mais há

A propósito da inesgotabilidade das palavras. Sem som. A das escritas, desenroladas num monólogo, num solilóquio ora tempestuoso ora tranquilizante, a da verdade revelada, a da verdade transmitida por ser tão verdade que se crê ser mentira da invenção.

sexta-feira

É para mim

É notório que este pedaço de escrita composta de retalhos é egoísta, sovina, poupada de per si. Porque é minha. Não é destinada a encantar quem ocasionalmente aqui passa, nem a deslumbrar quem venha à procura de estórias de amor. São registos do que acho, do que considero importante e substancialmente dos blogados de mim. Ninguém tem que os entender, fazer considerações sobre o bem ou sobre o mal, concordar ou talvez não. São vistas minhas porque a mim se ofereceu esta paisagem. Outros há que também o fazem e se acham por bem que o aplauso ou apupo seja consentido é o todo deles que assim o permite.

quinta-feira

Sentir a falta

O condicional da partícula impõe-se: Se eu deixasse os blogados que todo restaría de mim? Se súbito interrompesse este exercicio de análise e auto-critica, estudo e considerações que sobraría daquilo que sou, daquilo que sería depois? É isto um vicío, que como todos eles tem de ser combatido pela raíz ou umas gotas de liquido homeopático em que o veneno injectado ajuda a ganhar resistência a outros males? Saír agora. Sentiría a falta, é certo. De inicio, pelo menos. Mas depois? Alteraría e condicionaría a minha forma de ver, sentir, agir? Ficaría amputada dos blogados que já me constituem um todo na minha vida? Será rotina falar dos sentires?

quarta-feira

Outros apreços e estimas

A propósito do que disse no texto anterior. Do que parece ter ficado, resumido, em carne. Mas também das excepções de que todos os blogados se fazem e na medida tão mais peculiar de que o sentir é mesmo o que prevalece. Da estima que se nutre por quem admnistra o verbo como um remédio para a alma. De quem conta estórias de encantar porque é mesmo essa a sua natureza. De quem virtualmente se mantém na realidade tridimensional e fora eu crente de fés, chamar-lhe-ía trindade santa. Por serem exactamente no seu todo como o que são nestes pedaços retalhados.

terça-feira

Apreços

É inevitável nestes pedaços não nos ligarmos emocionalmente a um, a outro. Não pelo autor, autora, mas pelo pedaço que transmite de si, de sua pena, blogados que nos assentam como tendo sido adiantados por nós mesmos, em que acabamos a achar que a comunhão de sentires é muito mais feita da invisibilidade fisica do que a presença corpórea. Mas tudo isto é manha do virtual. Vai a ver-se e o pedaço de carne entretanto materializado apaga o tal fogo das emoções e como humano que se é no todo, a beleza exterior é sempre a que se impõe.

segunda-feira

Fornadas

Falei eu de poesia algures. Mas até da crua prosa há a necessidade do quarto, da luz, da pena e do se estar consigo mesmo, consigo e os personagens, consigo e os rolos de estórias. A pressa do quotidiano esgota a arte, materializa-a no plástico de rápido consumo, adopta-se fácil a técnica do standard e desde que dê resultado numa primeira aventura, vá de fazê-lo de empreitada. É o que eu chamo de livros de supermercado. Saiem todos os dias, aos montes, incaracteristicos, uma linha de montagem que se aperfeiçoa nas frases feitas de acelerado deglutir sem margem para o pensar, o remoer, o lembrar mais tarde, a preocupação boa que fica quando se toma um texto entre mãos e é pela altura do peito que se lê ávido.

domingo

Disfarces

Já aprendi que muito do que aqui se atira como beijos, abraços, uma tanta de saudade, os quero-te e ainda os quase a tombar da ponta da lingua dos amo-te não são simples exageros. São exageros mas sentidos. Dimensionados ao minuto vivido in extremis. De facto, quem os menciona acha-se nesse estado de graça e desgraça em que o sentimento se exarceba mais que na letra do fado. Depois desliga-se o virtual e parece que a maré amaina... mas nem sempre. Que os há tão sentidos e doloridos que virtualmente sería um pecado chamar-lhe sentimentos disfarçados. Dó e piedade dos que o sentem, não porque os sentem, mas porque os acham reais.

sábado

Poesia(s)

A propósito de poemar. A propósito de tempo e estado para o fazer. A propósito de feição e de vida e de humores e também de amores para a arte da poética. Que isto de deitar a fazer pedaços de poesia não é um simples acto de escrita. É uma acção condenada ao sentir, ao doer, ao sorrir. Que na verdade o verdadeiro autor é o coração e se os blogados da vida o atiram para um simples bater pouco resta para os bocados do sonho levado nas palavras que se querem mais altas. Poesias sim, mas veras. De outro modo, silêncio.

sexta-feira

Ciclos

E de repente há a sensação do esgotar. Nada mais para haver dizer. Contar de blogados. A propósito de hesitações na pena, no remoer de coisas que já foram ditas. Que de outras formas haverá sempre espaço para as escrever. Talvez uma lista de desejos para a nova época. Outros blogados de um todo que se pretende melhorado. Mas até nestes pedaços esgota-se o repisar das intenções e das partes se conclui que há (sempre) muito do mesmo.

quinta-feira

Nada como o sonho

A expectativa. A esperança. Ainda um fiozinho de luz ao fim do túnel. Ainda mais uma vez. Só mais desta vez. O sonho. Nada como entrar-se no novo Ano para se voltarem a renovar os votos de mudança, a crença no homem bom, a felicidade almejada. Mesmo que nalgum pedaço do mundo o mundo se desfaça em guerras, em traições, em homens maus. Nada como uma folha de calendário arrancada para voltar a renascer. Assim seja, assim fora.