domingo

Dores

A propósito de dores. Não as fisicas mas as que açoitam a alma. A propósito de algumas dores serem tão intensas que só se quer falar delas para ver se assim se conseguem expulsar de dentro de nós e perdê-las de vez no achamento. A propósito de algumas dores serem tão intensas que nem se consegue falar delas para ver se assim elas se esquecem de nós. Ou nós do que dói.

O artista

Ainda o Estio vai a meio e já a silly season se encheu de patacoadas, coisas abstractas e sem pés nem cabeça que se querem fazer passar por pretensa arte. Acrescente-se excentricidade. Porque, defeituosamente, acha-se que o artista é um bizarro. Tem que ter manias, tiques, preferências esquisitas que lhe confiram o tal cunho que o distingue dos outros. Quero eu dizer, que a par com a sua mestria terá que como condição básica ser um louco, na concepção do diferente. Porque se for um homem comum, com gostos comuns, com as obrigações comuns de qualquer mortal anónimo, muito se olha de esguelha e se desconfia dos seus predicados para a obra que apresenta.

sábado

Crescer&saber

À medida que a minha pele mingua, cresço por dentro. Creio que nunca houve um tempo em que tanto o encolher como o aumentar se tenham encontrado a meio-caminho, uma quase perfeição entre a natureza e o homem, a jovialidade e a sapiência. Não há génios neste caminho, tão pouco lampadas que se possam esfregar e concedam o desejo de eternamente novo, cada vez mais sensato. Um blogado de mim que me deixa triste, confesso.

sexta-feira

Se fosse eu (mas não sou)

Ainda os blogados de outros que contamos tenham o efeito que esperamos. Para nós mesmos, leia-se, em nosso beneficio. Contradições, somos feitos. A verdade, é que se esperamos que os nossos pares reajam mediante os padrões que ansiamos, onde fica a liberdade da individualidade e o pregão desvairado que cada um é o seu mundo? Chavões, somos feitos. Todos diferentes, todos iguais. Ninguém quer ser diferente nem ser igual.

quinta-feira

Se fosse eu

A propósito de reacções. Das que se esperam dos outros. Das reacções que tentamos provocar ou caímos na expectativa de que as cumpram como se fossem os nossos blogados a funcionar. Claro que é uma fantasia, como esperar dos outros se tantas vezes nós mesmos nos supreendemos com as nossas reacções. Mas a surpresa maior está que sempre dizemos que se fosse eu, reagiria desta maneira. Vá lá saber-se qual...

quarta-feira

Termómetros

Há dermes que nunca aquecem. Não falo de mãos frias ou pés frios. Falo daquelas peles que cobrem o tacto e parece que nada as comove, nada as excita. Quando se cortam, tapam a ferida, não sentem a dor a cicatrizar nem observam o golpe a unir-se de novo. Nunca sei avaliar estas pessoas, quase lhes sinto medo, não provocam o mercúrio da ira mas também não despertam paixões.

terça-feira

Eu(s)

Um dia destes transformo-me (de vez) num dos meus multiplos eus e aí fica arredada a sombra da esquizofrenia. Passo eu a ser um heterónimo dos meus derivados independentes, uma coisa de texto, uma figura de estilo.

segunda-feira

Emendas&erratas

Dos meus blogados do sentir. Retalhos que se podem pegar aqui, desprender dali, alteram-se as condições e mudam-se as emoções. Serei eu outra? Claro. E não. Se a intenção destes pedaços expostos é a avaliação dos meus males e o rasgar caminho para o conhecimento do eu, será legitimo emendar o que já escrevi desde que aqui cheguei. Mas se os sentidos eram os da verdade, outrora como neste instante não há errata que lhe seja aplicável. É que eu não sou perfeita.

domingo

Manipulações (do tempo)

O poder que a virtualidade da comunicação atribui através dos textos postados acaba por fazer de quem os publica pequenos deuses. Alteram-se datas, horas, mexe-se com o tempo, fazendo recuar o mundo na sua giratória, os horizontes adulteram-se em mares de areia e estes em grãos omnipresentes. Guardam-se blogados de vida para depois. Antecipam-se passados como se do amanhã se falasse. Nunca há presente, agora, o já, o sou.

sábado

Putativo

Até que ponto somos blogados daquilo que escrevemos. Até que ponto nos dimensionamos no que tornamos bandeira e cumprimos fora dos pedaços de poesia aquilo que subscrevemos de olhos fechados como certo, correcto, justo. Até que ponto é a escrita um acto de justiça e compromisso. Até que ponto enganamos quem nos lê tão fiável é o verbo com que nos defendemos num escudo de invisibilidade visível. Até que ponto é grave enganarmo-nos. Esse é o meu pedaço de receio.

sexta-feira

Ideais

Aconteceu-me olhar as folhas à espera de mim. Visualizá-las plenas das minhas letras. Todo o texto acertado às margens, a pontuação rigorosa com os espaços do respirar. Intenções designadas pelo punho, saber dizer o que quero e querer que me entendam. Depois, nada escrever, achar que há palavras que ficam mais puras quando apenas idealizadas.

quinta-feira

Aprender a escrever

De onde vem esta coisa que sai pelos dedos, se apresenta como frases impressas a negro por dentro visualizadas nos olhos fechados do dormir e do acordar e me impele a escrever? Onde aprendi a juntar letras e a formar palavras e destas encher cadernos com muitas folhas que se somasse toda a tinta com que pintei várias voltas ao mundo daría? Tento lembrar-me quando fui criança, menina de escola no 1º dia e parece-me tão dificil que possa ter aprendido tanta coisa... Será que já nascemos com todos os verbos dentro de nós e à medida do crescer estes se nos revelam?

quarta-feira

Juízes

Oficialmente entra-se na silly season. Como se do resto do ano houvessem nestes blogados pedaços de juízo. Antes, refira-se, encontram-se pedaços de juízes tão cegos como toupeiras já que as considerações sobre terceiros são adiantadas sobre quem não conhecem, nunca viram, nunca ouviram o tom da voz. Rápido e curto é este o crime da virtualidade.