quinta-feira

A euforia do passado

A estranha melancolia das memórias tem o condão de nos passar um véu pelos olhos e mistificar as realidades. Mesmo que seja o próprio a puxar pela cabeça e a recordar os momentos por que passou. Vá lá saber-se porquê, mas há a tendência de dourar a pílula e contornar os pormenores, deixar os ângulos menos bicudos e visualizar a cousa sempre de um forma mais doce. Vem isto a propósito, de em certas alturas lembrar-me de cenas do passado, sejam elas de há anos ou da minha infância, e uma nebulosa cortina aqui e ali, nalgum instante, aparece, provavelmente no inconsciente, que me faz duvidar se foi ou não, faço retrocesso, depois avanço, mas numa fracção de tempo, um segundo, há uma hesitação em que a duvida se instala porque não há certeza se efectivamente foi mesmo bom ou mal assim. É quase uma euforia, um borbulhar. E depois sigo no desembrulhar dos pensamentos, fluidamente. Mecanismos do cérebro, partidas de quem se ocupa a escrever blogados, tenho para mim.
 
 

Fortuna&Mérito

Depois do dia ter corrido surpreendentemente bem, mas mesmo muito bem, sentei-me dedicada a estes bocados de mim e frente ao vidro luminoso do monitor, que me parecia sorrir, emperrei. Dissertar sobre o quê? Apercebi-me nesses minutos que a sensação de felicidade ou até de boa-sorte que me tinham acompanhado durante a jornada, tinham-me retirado a capacidade de dissecar sobre os blogados, quiçá de me lastimar, uma fortuita condição de que raramente gozo e muito provavelmente, a maioria das pessoas. Será então o propósito do Todos e Blogados um muro de lamentações, um confessionário? Bastou o dia ter corrido de feição, sem nada de contrariedades, ter andado solta e feliz e a imaginação, tema e palavras terem-se escoado para um infinito pardo impossível de recuperar? Esta essência fadista será mesmo verdadeira ou à força de tanto a dizermos interiorizamos o seu sentido, tornamo-nos descrentes do mérito da nossa sorte e deixamos a distracção embalar até passar a sensação de euforia.
 
 

domingo

Doce blogado

A propósito da Páscoa e destes pedaços de escrevinhação, ou melhor, a propósito de ressuscitar e conseguir ainda sobre o que ter que falar/escrever, um todo que se fragmenta, ou reformulo: O que apurei de mim, o que depurei de mim e tentei melhorar e nada se aproveitou e então serão estes blogados uma pura perda de tempo, um mero exercício de tinta no papel, ou nem isso, que aqui é tudo virtual e assim sendo, apenas a conta da electricidade é que cresce e eu como ser humano em nada me transformei depois que me atirei a este exercício desde que o iniciei. Mas sou crente. Sou uma verdadeira acreditadora ( esta palavra existe?) que todo e qualquer treino - como encarar estes blogados? um todo ou a justificação das partes? - terá sempre um beneficio, e mais que não seja o da escrita, a prática do verbo, a ginástica cerebral e a musculatura dos dedos ao teclado. É uma visão optimista. Talvez demasiado açúcar das amêndoas. O blogado doce a imperar.