quinta-feira

O que apontam é o que fazem

O meu companheiro inseparável é o livro que sempre anda comigo para qualquer lugar onde vá, seja longe ou perto, não o dispenso. Senti-lo comigo dá-me a segurança de que não estou sózinha, as suas palavras guardadas entre páginas estão sempre à distância dos meus olhos quando delas precisar, seja para me ausentar do cenário, da conversa, do tempo que não passa, seja pelo prazer do texto que nelas se encerra. Vem isto a propósito, de já bastas vezes ter sido insinuado de que este meu livro mais não é do que uma peça decorativa, uma espécie de uma outra carteira suplementar que carrego para dar a aparência de uma certa intelectualidade, um status, um complemento à toilete. Nem sequer rebato a piadinha, não me merece o esforço dum pedacinho de um qualquer retalho meu. Deixo ao sabor e consideração de quem quiser explorar o tema e proliferar na ignorância. Sendo bem certo que a dedução que faço é que se devem estar a ver ao espelho.

 

segunda-feira

Maneta&Cegueta

Impressionada com o desiquilibrio entre algumas divisões de trabalho quanto a atribuição de tarefas, os meus pedaços resolveram juntar-se num todo. A união faz a força, diz o provérbio popular. Cautelosamente, abordei a questão: não quería ferir susceptibilidades, ser mal-entendida quanto à aceitação do que havía sido entregue e principalmente ser apelidada de queixinhas. Mas logo que abri a boca, a justiça aproximou-se de pala no olho e zarolha, começou a desferir atamancadamente, bordoada em cima de mim. Vem isto a propósito, do que ocorre na generalidade no nosso pequeno paraíso. Da minha parte e no imediato, engoli em seco e a dor que senti pelo que ouvi e temía, foi tudo o que apanhei. Mas passadas as primeiras pancadas, endireitei o esqueleto e encarei aquele boneco desajeitado, cegueta e maneta, desarticulado de espinha vertebral, apanhei os meus sentires, regressei ao meu todo e rematei: Tenho dito.

 

sexta-feira

Eu escolhi

Há quem já se tenha habituado a ver-me assim, distante, é como me chamam, desconheço se o fazem com o sinónimo de altivez ou de medida. Outros apontam o dedo com o ar de desdém acrescentando bicho-do-mato. E depois há a parcela dos que não me vêem sequer. Ou vejo-os a todos, ouço-os a todos, mas escolhi estar sózinha a maior parte das vezes porque não tenho paciência. Esta é a verdade. Não tenho mais nem menos que todos eles, sou par deles, mas não aguento aquelas conversas, o volume do som, desinteresso-me, aborreço-me, enfado-me de tal forma que fisicamente sinto dores de cabeça, alguma náusea, só penso em correr e fugir, essa é a única imagem que me fica presente. Sempre ouvi que quem está mal muda-se. É o que faço. A minha solidão não é um isolamento forçado e tão pouco é triste, são retalhos daquilo que sou e das minhas opções de bem-estar. Entenda-se que eu gosto da humanidade. Mas entenda-se também que os meus sentires não gostam de todos.
 
 

quarta-feira

A capa do livro

A propósito de capas e de livos ou não necessariamente destes mas da analogia destes com as pessoas e do julgamento directo que nós fazemos do que vimos. Quero eu dizer, que aquilo que me ensinaram como regra básica que não se deve tirar conclusões pelo que se vê, mas fazer uma avaliação pelo seu todo - e o seu todo é o carácter, entenda-se - é bonito mas não verdadeiro. Ou reformulando: é verdadeiro, mas não tem aplicação. Ou explicando à terceira: Não o fazem comigo. E acrescentando uma alínea a): Apercebo-me que não o fazem os demais e até eu caio nessa esparrela primária de por vezes não o fazer, não sou assim tão diferente. Vem isto a propósito, escrevía neste longo inicio, de que julgamos todos, como dizem os ingleses don't judge a book by it's cover, numa tradução livre, não julgues o livro pela sua capa, ou que mania esta que temos de tirar conclusões quanto ao que as pessoas são pela forma como vestem, gesticulam ou andam. O pacote exterior tem muita importância, demasiada, e afinal, nos dias de hoje e na pressa que (todos) levamos, é (quase) a única coisa que vemos.
 
 

segunda-feira

Desejos poéticos

Por vezes aquilo que se quer é tão tangível que se chega a crer impossível. Vem a isto a propósito de desejos poéticos. Algo muito pequeno, simples, cru, uma sensação qualquer que chega a ser complicado traduzi-la a outrém pela singeleza do pensar. É nessas alturas que um pedaço de nós se acha extremamente complexo no descodificar das suas emoções. Desiste pelo exasperamento. Mas logo na primeira facilidade, sem combate algum entrega-se à frase de não conseguir explicar porque é só um sentir que o outro nunca há-de entender por nunca o ter sentido. Será? E este outro, assim fará a um outro de novo, e em cadeia, outra vez, e andamos todos nisto a achar que é impossível dizer coisas puras e banais que nos deixam bem e contentes só por serem pequenas e não valerem o esforço, e vai daí: Calamo-nos. Não dizemos nada. Abanamos a cabeça, encolhemos os ombros, dizemos não saber o que temos, mas sentimos uma depressão cá por dentro... e suspiram.

 

sexta-feira

Boa Noite

Porque hoje me permito esticar o tempo e os não-fazeres (termo muito próprio que não pode ser encarado como um neologismo mas ainda assim serve para denominar tudo o que não é tarefa comum e habitual nos restantes dias da semana), podería estar aqui a dissertar e escrevinhar blogadamente. Que é como quem diz: garatujo um bocadinho agora, escrevo outro pedacinho mais daqui a pouco. Vem isto a propósito de que quando se pode, à vontade, parece não apetecer tanto. A ânsia do que não se tem é sempre um apetite mais saboroso e estes retalhos, cosidos a maior da vezes já no final do dia, cansada, valem pelo meu retiro, uma almofada macia que me prepara o sono e me dá as boas-noites. Hoje tenho tempo. Mas hoje só me apetece dizer boa-noite.

 

quarta-feira

Falatórios

Neste todo que me faz, metade mais metade, o que importa mesmo são as imperfeições. Quero eu com isto dizer, que para mim, que permanentemente busco a perfeição no todo, na tentativa - conseguida ou frustrada, não é isso que está em causa -  de um interior mais tranquilo, inteligente, tolerante e sagaz que permita separar o bem do mal, o que os outros acolherão, será sempre o resto, os restos. Vem isto a propósito, que todo o trabalho que eu faça, todos os bocadinhos de perfeição que consiga permitir-me, nunca serão validados. Restarão sim, perenemente, as imperfeições e os defeitos, uma boca-cheia de trinta minutos que valerá a conversa quando nada houver para dizer.

 

terça-feira

A morte tecnológica

Não sou pudica ou moralista mas sinceramente, creio que algum recato é preciso na altura da morte, seja por respeito ao ido seja por contenção à barragem dos sentires que tendem a extravazar os que estão próximos ao defunto. E vem isto a propósito, de há um par de anos ter apanhado um soco no estomago, quando li a noticia do falecimento de uma certa pessoa através do facebook. As mensagens multiplicavam-se e sucedíam-se de tal forma no seu encadeamento que o penúltimo, apanhado na surpresa, não percebía se tinha sido o autor de alguns comentários acima o próprio morto, que não fora o macabro da ocasião e eu estar triste pela perda, tería rido que nem uma perdida. Eu não quero que comuniquem a minha morte desta forma. Aliás, não a digam a ninguém pois não vai aproveitar a ninguém. Não sou rica e não vou deixar nada. Tudo o que tenho é o agora e esse garanto, que o gasto todo.

 

domingo

Vícios&Blogados

A dependência dos blogados é tão relevante quanto a de um qualquer outro vício, ou seja, controlável, ou seja não é vício. Lógica da batata. Pois se o fosse não seria de todo controlável, o que equivale a dizer que passo bem sem vir aqui. Vem isto a propósito do prazer que sinto quando aqui venho. Contradições? Claro. Os bocados do que sou, retalhos dos sentimentos e dos sentires são o todo que me fazem e nisso sou tão igual aos demais. Que decepção, não é?! Mas não me conheço com dependências e vem isto ao inicio dos blogados, ou seja, sabe-me bem escrevê-los mas também fico bem se nada deles contar. O que não tem nada a ver com o escrever, note-se.
 
 

sexta-feira

Pepineiras

A propósito de ermos, montes, isolamentos, o lado de lá, ou melhor dizendo o de cá que é onde ninguém põe os pés ou reformulando, as vistas. Isto aqui é uma chateza. Nada de revelações ou amores proibidos nem mesmo uma facadinha ou mudança de sexo, tão pouco um vírus ou uma vingança. Nada, nada. Que é como quem diz, tudo normal, apenas bocados de mim, um pedaço de pessoa que escrevinha aos blogados o que lhe vai na ponta dos digitos, com algum filtro bem entendido, mas apenas no cuidado ortográfico. Do resto, é tudo sem rede. Até no cabelo.