terça-feira

Ter e não querer, não poder e desejar

Nunca fui dada a essas coisas do Entrudo. Nem mesmo em criança, quando todos se apresentavam orgulhosamente figurados de piratas e princesas. E não foi porque a minha Mãe não o tenha tentado, a exibição de folhinhos e pérolas ou até a sedução de cores que a imaginação infantil é levada a criar nas histórias em que se torna a personagem principal seríam uma boa razão, mas sentir-me o centro das atenções era a vontade da fuga. Assim, mantive-me sempre num canto, tomada por aquela que era diferente porque não estava mascarada. Era apenas eu. Mas passados tantos anos e chegada até agora, aprecio-me nestes blogados como uma fantasia. Talvez porque as cores perderam o brilho e já ninguém liga a Carnavais. Ou talvez porque passou o tempo das máscaras de vestir e tirar e eu sinto saudades dos argumentos da minha Mãe. Vem isto a propósito, do que já não se pode ter e queremos, do que tivemos e não quisemos então. Outras fantasias no presente, outros bocados se põem em cima.
 
 

sábado

Às vezes

Tenho vezes que sinto que a minha oralidade é escassa para expressar as minhas intenções, e não o digo referentemente a sentimentos ou sensações, refiro-me a coisas tão banais como pedir um café curto ou um pão bem cozido com manteiga e cortado ao meio. Invariavelmente, este tipo de indicações é ignorada por quem me escuta, ou melhor, por quem não me ouve, porque não atendem aos meus pedidos e quase - quase - parecem vir servidos no sentido contrário. Se reclamo, olham-me calados com olhos de quem está ser alvo de injustiça; Se nada digo, acabo a comer o que não gosto, mas sou eu que pago. Vem a isto propósito, da minhas mensagens orais, do meu discurso. E se não sou bem interpretada verbalmente, como posso esperar que estes blogados de escrita não passem do mesmo mau entendimento, um desacordo entre o todo e as partes?