domingo

Maio maduro Maio quem te pintou

Mesmo a queimar os últimos cartuchos uma palavra especial para um mês especial. Pelo que significa. Porque sempre imagino que é em Maio que as pessoas se apaixonam verdadeiramente e nem sequer quero saber que isto é apenas uma presunção encantatória minha. É assim aqui nestes blogados porque eu quero que o seja. E porque me é vital continuar a ter invenções destas para encarar a realidade. Sem direito a meses especiais.

sábado

Celebrar

A propósito de comemorações. Efemérides. Que muito mais do que já ter passado um ano aqui a debitar, congratulo-me de ter tido e continuado a coragem de me interrogar. Passou rápido. Provavelmente se tivesse obtido respostas para todas as minhas dúvidas estes blogados já teríam passado à história. Àquela de ficção, digo. E o curioso deste aniversário é que isto tem muito mais de real do que inventado. Quem diría...

sexta-feira

Silly season

Aproxima-se a silly season. Cada vez a chegar mais cedo fruto de uma incapacidade para determinar as estações do Ano e deixar-se correr a pena ao sabor de um Estio em Fevereiro ou de um Outono demasiado fresco em finais de Junho. Deturpa-se assim o conceito britânico entre as temporadas futebolisticas, passando muito mais pela imprensa rosa em que o primado é falar de coisa nenhuma sem interesse algum e desempenhado por cabeças ocas como amibas. Para os blogados tanto faz. Os retalhos destes sentidos - leia-se meus - sempre serão a falta de certezas sobre o irracional das emoções. É disso que os bocados deste meu ser falam. De mim para mim.

quinta-feira

Deve ser

Deve ser por não se tratarem de estórias ou elaborar-se a história das estórias que por aqui permaneço. Orgulhosamente e quase isolada do resto de blogados que embora sabendo, nada me dizem, nada me alteram, nada me conformam nesta vida paralela que ao longo de (já) muitos dias aqui venho desfiando. Das ficções retiro o prazer dos floreados mas igualmente o papel único de comandar o destino dos que por aí evoluem, pondo fim às suas existências mais ou menos turbulentas. A verdade é que lhes sugo o sumo todo e casca no fim, nem mais uma gota se lhe aproveita. Deve ser por isso que aqui não havendo fado, a tragédia se desenrola de per si e eu, triste autora, vou dedilhando notas à medida da minha própria evolução.

quarta-feira

Justificações

A propósito de necessidades. As de aqui vir e escrever. Também as de descarregar e aqui vir botar discurso. As de tristeza e encarar este branco pardacento como um muro de lamentações. Na alegria também, o ufano da coisa ao ver evoluír a minha felicidade no correr das linhas descritas rápido e disléxicas. Tudo servirá de justificação para aqui (sempre) regressar. Deve ser por isso que ainda não queimei de vez esta manta de blogados. Sentimentalismos à parte: Que outra explicação havería?

terça-feira

Estádios

Não me tornei descrente da raça humana. Sou cada vez mais cautelosa ao invés. Talvez até, receosa, palavra estranha em mim, que encaro não ter medo de nada. Arrisco desconfiada quanto ao homem, às suas intenções verdadeiras e directas entre o dizer e o agir. Defensiva. Tento nada sentir para não me magoar, não me desiludir. Outra e outra vez. E no entanto, surpreendo-me comigo mesma, como consegui chegar a este estádio de nada sentir.

segunda-feira

Em crescendo (ou talvez não)

Quando era garota falava muito sobre mim. O que sentía. Era importante explicar-me e mais importante ainda que os outros entendessem o meu sentir. Em adolescente repartía o ver e o sentir entre o falar e o desenhar ou escrever. E era importante saber que os outros queríam saber de mim, do que eu sentía. Nos dias de hoje pouco falo do que sinto. Há vezes que até mesmo sob insistência não conto nada. Mas os blogados aumentam de dia para dia.

domingo

No mundo da Lua

A propósito de tradições. E a propósito da chuva e da noite. E a despropósito o tempo que agora se sente, um quase Verão, um quase Outono, uma incrédula constatação de que as estações do Ano são mera designações académicas e que nada é o que já foi, nem o expectável pode na melhor das hipóteses e do bom senso ser previsível. Amanhã pode estar um céu azul e cheio dos cheiros de maresia e o meu coração engelhar-se num frio rigoroso. Ou chover como ontem e como hoje ameaça e eu perder os meus pensamentos através do vidro das janelas só porque vi uma joaninha avermelhar corajosa entre o pardo dos dias. A propósito das tradições serem uma figura de estilo e a lembrança do que os meus antepassados disseram aquando o homem pisou a lua terem alterado o rumo das estórias fazerem-me sorrir.

sábado

Definições

A chuva cai na mesma intensidade da noite profunda. Dois bocados do meu prazer. Dois bocados estranhados pelos outros que não conseguem encaixar no meu perfil exteriorizado uma coisa tão bucólica, intimista, quase gótica como a chuva e a noite. Será esse o cerne da questão, a minha luta de opostos ou a convivência nem sempre pacifica de extremos que me completam e aliás, definem.

sexta-feira

Então???

Ainda pegando os blogados abaixo e sabendo de antemão que isto é tarefa que nunca há-de alcançar o fim, qual o propósito de manter esta loucura? Não sei a resposta. Se me faz melhor, mais reconhecida nas minhas fraquezas, mais exigente nas minhas afirmações e ainda assim a saudade de poesia se manifesta tanto na hesitação dos sentimentos, melhor sería racionalizar o acto e acabar de vez com isto. É sabido que não chega a lado nenhum. Ou pelo menos para além de mim. É então que constato a leviandade da escrita. Maldito vicio que me estás nas veias.

quinta-feira

Tapa, destapa

Estranho encanto este. Doba-se a lã que há-de tecer as linhas que fazem crescer estes blogados, um sem-fim de tricotar que nunca há-de ter tamanho bom para aquecer. A alma, diga-se. Esta coisa do retalhar os sentidos - e o que é isso do sentir? - tem o dom da tarefa inacabada por toda a eternidade, que quanto mais se explora mais se descobre e mais se cava profundamente num ciclo insano que volta ao inicio e recomeça dos pés. Manta curta, pois.

quarta-feira

Retalhos (nem sempre meus)

A quem aproveitar estes blogados para achar que de mim sabe, levará para além de mim. Levará perguntas essencialmente. Das minhas e das que os desviados heterónimos tentam colocar. Que por enquanto, aqui, tem sido lugar mais de eu que dos outros e de alguma forma, parece ser esse o segredo para os manter afastados. Encher tanto com coisas minhas que pouco sobeja para os outros levarem um retalho que seja. Porém, tentam. E ao longo destes dias largos apercebo-me de alguns textos redigidos pela mão alheia, disfarçadamente, não vá eu enxotá-los de vez. Como podería? Sería amputar-me mas também não pretendo a aniquilação nem deles e muito menos a minha.

terça-feira

Ainda

Ainda tenho ternura por estes blogados. Ainda lhes sinto a falta, mesmo que os dias passem ou épocas de fastio me atirem para outros recantos. Ainda me zango comigo por fazer tanta pergunta e nem sempre ter respostas. Ainda me encanto por não ter respostas para tudo. Ainda acho que vale a pena o tempo a que me disponho a retalhar os sentidos. Os meus. Aqui é lugar meu. Mesmo que do meu sentir haja uma multidão que faz parte. Ainda me confesso, condeno e absolvo. Ainda me construo e disseco e analiso e chego a conclusão nenhuma. Que não deixa de ser uma conclusão. Mas à medida que os pedaços se unem outra eu me encontro e pacífica, aqui sempre retorno como casa minha.

segunda-feira

Dos pedaços da manta

Ao correr da pena tenho deixado escapar linhas de raciocinio, de estar nem sempre minhas, nem sempre concordantes com a minha visão, porém paralelas a estes blogados, umas vezes enriquecendo-os pela diversidade outras manchando o que eu gostaría de manter impoluto. Mas a vida é mesmo isto. Cheia de nódoas, cheia de intenções de limpar as nódoas, engenho bastante para fabricar tecidos onde as nódoas não caiam. Da minha manta de pedaços há tudo. Fá-la colorida e sombria, leve e pesada. Nunca pretendi que aqui fosse um mar de rosas, muito mais das contradições de que sou feita, um misto entre espinhos e açucenas. Só nos dois extremos é que se entende o que se gosta e o que se rejeita.

domingo

Sem explicação

Para além destes blogados há coisas que coexistem que não têm de ser explicadas. E se o fossem perderíam todo o encanto e passaríam a fazer parte deste débito meu. Embora não o vá fazer sería imperdoável não o mencionar. A poesia. A poesia não tem de ser explicada, esmiuçada, compreendida. Tem de ser sentida. Orgânicamente, de preferência. Como um impulso incontrolável ou um vicio do qual não se pode escapar para a cura. Isto tudo para justificar o que tento racionalizar nestes pedaços. A vontade da poesia volta. Apressadamente.

sábado

Malefícios&virtudes do se

A propósito do uso do condicional. Que tal como o nome indica designa estar sob condição. Exemplo: Se eu escrever fico bem. Mas também quer dizer que sob estas condições outras acções poderão ser despoletadas num futuro que se crê mais ou menos próximo. Exemplo: Se eu escrever fico bem e outros poderão ler-me. Ainda a propósito do condicional tão versátil. Se fizer gasto dele não só me submeto à sua vontade mas ganho o poder de condicionar outros. Exemplo: Se eu escrever fico bem e outros poderão ler-me mas isso não quer dizer que me conhecem.

sexta-feira

Agitar

Não há nada que me faça mudar as minhas convicções enquanto principios de conduta, carácter, personalidade, blogados daquilo que compõe um ser humano. Com virtudes e lados feios, não necessariamente nesta ordem nem absolutamente na mesma quantidade. A alternância do bom e do mau está em todos, esse é um pedaço de adn que se adquire e constrói ou se copia e se deixa corroer pela infelicidade. Sou infeliz muitas vezes, tantas outras deixo o meu lado feio tomar conta de mim sem querer saber de nada mais. Sou feliz muitas vezes, em abundância, por vezes quase desesperadamente feliz e igualmente sem me importar com nada mais do que sentir essa bonomia. E se as convicções são partículas egoístas que flutuam cá dentro de nós também o são a felicidade e a tristeza. O mal é quando assentam e ganham um fundo.

quinta-feira

Sabe-me bem (muito bem)

Sabe-me bem ter descoberto que não há cansaço que me tombe aos ombros nem às mãos, tão pouco aos olhos, quer sejam vigis quer seja no saborear da palavra cerrados, quando as horas se correm como contas de um terço velado e orado no esfregar da ponta dos dedos. Sabe-me tão bem ter descoberto que escrever nunca me cansa, é uma manta de blogados que construo infindável e arrasto para onde quer que vá.

quarta-feira

Sabe-me bem (ainda)

Deve ser por isso que esta manta acrescentada se tem esticado ao longo dos meses, quase a atingir um ano de manufactura, tantos dias de considerações, muitas verdades, o olhar de longe o amarelo pardo das mentiras, o inconsolável do fast writing for easy takeaway... Sabe-me bem não ter havido nestes retalhos de mim uma quantidade de reticências que me levasse a concluír ser este um ponto de confronto com os meus pedaços. Que as há, inevitável durante tantos dias nunca as pontilhar. Mas foram quase sempre perguntas a que me dispus a procurar respostas e não um acerto com o que sou ou uma espécie de autoflagelação por me ter portado mal. Sabe-me bem estar aqui passado todo este tempo. Sem reticências e sem explicações para as causas.

terça-feira

Sabe-me bem

A verdade é que sou egoísta. Pronto. É verdade. Sou egoísta porque me sabe bem chegar aqui, descalçar-me, subir as pernas para o corpo e enrolar-me nas folhas dos blogados, nesta manta de tantos retalhos que tenho vindo a construír aos poucos, nem sempre quotidiana, nem sempre pacifica. Sabe-me bem aquecer os pés nas letras, saber-me sózinha comigo mesma, não haver visitas a lembrarem a compostura, o atino. É egoísmo, puro. E tão saboroso estar acompanhada de mim.

segunda-feira

Ferrugem

Há dias constatei o facto da poesia andar a faltar na minha vida. A que escrevo bem entendido. Da outra vou tendo nem sempre a que mereço, nem sempre a que trabalho para ter, nem sempre a míngua que a generalidade do mundo tem e eu, rica, lá vou dedilhando poemas entre os olhos e a lingua como se fizesse alimento para me nutrir. Mas a que descrevo, a que desfio, essa tem andado arredada dos meus dias e das minhas folhas brancas. A poesia é como o amor. Se se deixa de fazer deixa de apetecer. Enferruja-se.

domingo

Alucinações

Há gente que se convence das coisas mais mirabolantes. Imaginam imagens no fisico e no intelecto que são tiradas vá lá saber-se de onde, provavelmente do que anseiam assim seja, provavelmente da realidade em que vivem, provavelmente um mundo de associações onde nada mais cabe do que exactamente aquilo que construíram numa alucinação, já que confrontados com o modelo original nada mais se saca do que uma valente desilusão. Mas o pior nem sequer é esse desapontamento. É acharem que a culpa é dos que idealizaram não serem exactamente como se convenceram que eram.

sábado

O que quer dizer

Perdão quer dizer desculpa. Que se passa uma borracha no assunto. Que já passou. Mas perdoar não significa esquecer. E é neste ponto que não existem blogados. Apenas o todo. Não esqueço nem perdoo. E se o tentasse fazer faría de mim um bocado, um lado, uma metáfora. Aí não me perdoaría de todo.

sexta-feira

Atalhos

As fotografias antigas têm o doce encanto tão semelhante aos blogados. Daquele tempo, claro, que vê-las é recortar sons e sorrisos e aportá-los a esta contemporaneidade por vezes insuportável de levar no ritmo sabido dos dias. A rotina mata-me. As fotografias antigas para além do reviver de situações têm o condão de alterar o que já se sabe, são atalhos à avenida principal, direita, asséptica e desprovida de segredos. Os atalhos podem ser, sim trabalhos, mas o encanto está em superá-los.

quinta-feira

Materiais

A propósito de correntes, de diques e de torrentes. A propósito do que está (quase) a tornar-se um hábito, ou seja, de estar fora deste blogados por dois, três dias e depois como a imensidão do mar me torna praia e sinto a necessidade de aqui vir e ficar alagada. De conchas, restos de navios, um pedaço de vidro. A propósito do que as letras possam ser, a sua versatilidade e maleabilidade. Acho que não há material mais dúctil...

quarta-feira

Vozes

Da correría dos dias é bom ter um refúgio onde desaguar. Saber que mesmo sem retorno de voz há a nossa cá por dentro que ainda não teve vontade de se calar. Até quando o ruído de fora se torna insuportável.

terça-feira

Maduro por dentro

Há aqui uma estranha calma no confronto entre a realidade e o abstracto do virtual. Falo de mim também. Do que me apercebo em mim no mal e no bem e de como entendo quão erradas são algumas das conclusões das quais faço parte desse júri. Por vezes condeno-me. E algumas vezes até aprendi a lição e emendei-me. Até por vezes me lembro no acto de esticar o dedo e apontar do erro em que poderei estar a caír e arrepiando caminho, não o faço. Virtuosidades do virtual? Nem tanto. Talvez o fruto que há em mim amadureça e eu me aperceba de quais são os meus verdes e os meus comestíveis.

segunda-feira

(...)

A propósito de parentesis. Do que significa. Neste caso, extracção. Ou melhor, intervalo, interregno, tempo. Aliás, demasiado tempo. A propósito de confissões e de poesia. A propósito destes blogados e do todo da poesia. Que não o tem sido. Há muito tempo que não me dedico à poesia. Só a estes intervalos.

domingo

Arrumações

Por vezes sinto que toda a vida estes pedaços de mim andaram à solta cá por dentro, fiapos que se engataram em farpas ou pregos. A minha memória. Ou a minha vontade. Depois que os blogados se materializaram em palavras, linhas e mais linhas de palavras que supostamente se ordenam num raciocinio (mais ou menos) lógico, tudo parece que sempre se apresentou arrumado. Como se eu não tivesse dúvidas. (Quase) Como se fosse perfeita. Irónico. Que se o fosse para que serviríam estes farrapos?

sábado

Preverso

Há uma preversidade nesta paixão dos blogados. Porque primeiro só pensamos neles, depois esgotam-nos. E por fim não podemos passar sem eles. A que se deve este carrossel ainda não consegui perceber. Mas é quase assustador saber racionalmente que acabamos por infligir dores a nós mesmos que bem podemos dispensar. Basta querer. Mas o problema está aí mesmo: Força de vontade para o querer.

sexta-feira

Sem explicação

Porque será que com Maio o peito se enche até quase estourar num sentido em que toda a vida parece ser mais fácil, melhor, quase dócil ao nosso manejo... Não sei a resposta mas abstenho o ponto de interrogação porque não quero respostas. Os blogados chegam, obrigado.