sexta-feira

Fora de tempo

Há uns tempos acordei com um som familiar que me trouxe belas recordações da minha infância. O fim de semana passado, esse som regressou. Era o amolador. Mas fiquei a pensar, que nos meus tempos de menina, essa figura surgia perto do Outono, porque sempre tenho memória daquele lamento do seu apito longo, quase árabe, quando a escola já abrira as portas e o velho ditado a acompanhar sobre o amolador a chamar a chuva. Agora, vem em pleno Estio. Tempos de crise estes, que obrigam a desviar as minhas recordações e a pô-lo a acordar-me sem norte, tentando vingar a oportunidade na canícula, sem dó nem piedade. Para ele e para os demais que tentam colar no álbum do tempo a figura de um som mágico e poderoso, quase temido. É caso para que se diga, o fio da navalha, ausências de estações, ausências de emprego.
 
 

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