domingo

Por outros, faz de conta

Escrever um livro. Criar personagens e viver as suas vidas. Ver com os olhos da invenção. Sentir, mas só a fingir, porque o coração não é verdadeiro, nem bate realmente. Ninguém chora a sério os amores, as despedidas, os nascimentos. Escrever. Sentir por outros o que se é fingindo que é dos outros aquilo que de quando em vez se é mesmo.

sábado

Poderes

A propósito do fim que pressupõe o recomeço. A morte do ano que dá vida a outro. Feitiços possíveis apenas nos blogados da imaginação, que a verdade derradeira termina com tudo. Ou não, depende da crença. Nasce-se outro após a morte? Renasce-se melhorado? A invenção do calendário veio colmatar a resposta para o que não se vê, o que se precisa de medir para se arranjar justificação, o poder do homem para acabar e ressurgir na imitação do deus. Dos deuses. Do que se acreditar.

terça-feira

Pouco mas concreto

Não pela falta de vontade ou estímulo, mas tão só pela medonha conclusão de que o tempo não é(nem sempre, nem exactamente) aquilo que fazemos dele. Muito do tempo é cansaço. Daí poucas palavras. Ou talvez as justas. Sempre as concretas. Para mim, claro. Na nesga do tempo se fazem grandes projectos e se terminam construções gigantescas. Fora o exemplo exarcebado, os blogados serão os meus pedaços de construção. Desconstruíndo o todo outros pedaços se revelam. Tudo isto para dizer, que o escasso que aqui tem aparecido é sempre vero. E com esta remato, Feliz Natal a quem por aqui raspar o olhar.

segunda-feira

Exageros

A propósito de exageros. Os de época. Os da boca, os da crença, os da entrega e até mesmo o dos abraços e beijos. O excesso de telemóvel fervilhando no envio de mensagens que se copiam cem vezes até à exaustão de quem as recebe e reenvia. A falta do cheiro de um cartão com brilhantes colados que caíam ao toque maravilhado dos dedos. A falta da caneta mordida na ponta ao pensar no desejo personalizado de uma quadra feliz. O sabor dos envelopes. O sabor de receber boas-festas e enfeitar a árvore com o carinho dos que não podíam estar perto. O meu exagero ao recordar a saudade desses tempos...

quarta-feira

Dúvidas

Do que começou por ser um exercicio de expressão, conhecimento e melhoria rápido passei a blogados de critica. De mim. Do social. De blogados de mim que se desenquadram do social ou a minha visão afastada desta cidade virtual. De blogados do meu sentir que me atiram para uma admiração duvidosa pela experiência de vida que trago às costas. Prossigo. Viciosamente. Mas pelos meus vicíos e defeitos, um todo partilhado aos bocados. Um de cada vez, claro.

terça-feira

Mês de crença. Tão má crença. Por apenas se revelar em meia dúzia de dias num ano inteiro. Os perdões, as confianças, os bocados de dádivas e de doares atingem como marés vivas, levam tudo e todos na enxurrada, nada escapa. Depois escapa-se a fé. De novo. Tudo raivas e intrigas outra vez. Tudo sublinhado pelas ofertas ridicularizadas nas trocas desequiparadas, na comida comida à fartura e escorraçada pelo mau tempero. Destemperanças de fé. Pedaços de boa-vontade de muito má-vontade.

segunda-feira

Atafulhar

A propósito de elogios. E também de rasgadas demonstrações de afecto. Sejam de amizade, sejam de amor. Sublinho estas manifestações pelo virtual em que os bocados são blogados e o que acontece agora é passado imediato. Fico atafulhada de respostas possíveis quando agraciada. E não me sai nenhuma. É o meu todo reactivo. Ou direi, sem reacção...