terça-feira
sábado
Blogados de vida&morte
Vão-se os de nome. Vão-se blogados de vida na vida do que partiu. Renasce-se em cada memória, diz-se eu fui assim, eu era assim naquele tempo. E enterra-se o que se foi na medida de que reviver também faz sentir morrer por várias vezes.
sexta-feira
Again and again
Houve uma altura em que acreditei que as palavras faladas eram a coisa mais bela e pura do homem. Depois, tornei-me crente no silêncio, no guardar as palavras e usá-las com a parcimónia e importância devidas para a ocasião. Agora estou na fase das palavras escritas. A valoração do que fica desenhado na folha. Não para a posteridade. Mas para mim mesma: lembrar, caso o esqueça porventura, que um dia acreditei que as palavras faladas eram puras e belas, depois o silêncio e por fim o registo.
quinta-feira
Amadurecer
A medida do tempo proporciona o alargar das vistas. E ao mesmo tempo o encolher do nosso mundo. Selecções.
quarta-feira
O amigo do amigo
Não sou amiga dos amigos dos meus amigos. Sou amiga dos meus amigos. Porque os amo. Os amigos dos meus amigos não os conheço de parte alguma e o pouco que possa ter-me relacionado com eles tornaram-me sua amiga. Como amiga dos meus amigos. Dos outros são-me perfeitos desconhecidos na medida dos laços afectivos. Não os considero melhor, pior só porque são amigos dos meus amigos. E também os meus amigos não deixam de ser os meus amigos só porque têm amigos que não são meus amigos. Nem nunca o serão.
terça-feira
Corre
Escapam-se-me os dias entre olhares profundos para o que fui, o que sou. Pedaços de escrever que aumentam como uma manta tricotada com os sentidos. Nem sempre meus, sempre emprestados a quem mos rouba nas noites de insónia ou em pesadelos transformados em letras que julgam tão verdadeiros e por isso, ficcionais. É a correría do tempo em que os eus me disputam levando a melhor, eu longe, fim da linha.
segunda-feira
Balanço
Recolhidas as palavras de há um ano, houve mudança capaz de me fazer escrever diferente e ter radicalmente mudado o que penso? De modo nenhum. Antes se agravou numa convicção de que a cobardia não escolhe virtualidades onde supostamente as gentes deveríam ser melhores por não necessitarem do escudo ou arma de ataque como sucede na selva real onde nos debatemos por marcar território e não ser refeição de hienas. Mas se assim é, de que vale permanecer nestes blogados do sentir onde o meu sentir chega por vezes já em sangue? Masoquismo?
domingo
Dois mundos
Que mania da frontalidade! Eu, contra mim! Se destes blogados me iniciei para o caminho do auto-conhecimento porque insisto em querer mudar o mundo? E ser igual à noção do que se é numa correspondência irritante de que a verdade é-o em qualquer parte? Refiro-me bem entendido, ao mundo dos blogados e ao mundo das realidades.
sábado
O livro das caras
De repente apareceu a magia de todos serem amigos de todos. São blogados de pura imaginação em que o que conta é o número reunido e não quem se conhece efectivamente. Parte-se da idéia sublime de que se alguém é amigo de outrém um terceiro será seu amigo também. Coisa bizarra. Tanto mais que neste virtual o que se assiste é a ódios cultivados por quem nunca se conheceu.
sexta-feira
Palmas
A propósito de palmas. A propósito de actores, actrizes, desempenhos, convicções. Ainda a propósito de se acreditar no que se vê; Ou no que se quer acreditar. Porque da verdade ou parecer ser quase verdade vai a distãncia que fica igual do espectador ao actor no palco. Quero eu dizer: Batem-se palmas ao que se quer acreditar ser a verdade quando o que mistifica as verdades são os bons desempenhos de representação.
quinta-feira
O fim (não justifica)
Acredito que os meios não justificam o objectivo a alcançar, fazendo alusão a manobras pouco transparentes ou que coíbam outrém da sua liberdade. Mas cada vez mais apoio que o fim, mesmo com intenções puras e nobres, tem um limite de dignidade para acontecer. Que interessa o empenho se o final é um parto prematuro em que nasce defeituoso o que com tanto amor se gerou?
quarta-feira
É bem-feita!
Bem-feita! - Era o que se dizía na infância a quem caía ou sofría outras penas. E dizíamo-lo porque não gostavamos de alguém que tinha sido nosso amiguinho ou porque lhe tinha sido dado o aviso para não fazer isto ou aquilo e ainda assim a teimosia o levava por esse caminho condenado. Hoje não se verbaliza essa satisfação mas pensa-se remoidamente, com gozo mirrado, com desejos de que ainda pior lhe aconteça. Tão pouco se pode dizer que são resquícios de blogados da infância porque exemplos destes concorrem em pequenez aqui pelo virtual.
terça-feira
Alegoria do boato
Primeiro chegaram para ver quem era. Depois constatavam que era agradável ficar. Foram passando palavra. E a fila engrossou. Até que alguém achou que estava a ficar para trás. Passou palavra. De coisa inventada. O boato engordou e os da fila desmobilizaram. Alguns não ligaram, mantiveram-se de pé para entrar. E entraram. Outros, com medo que lhes acontecesse o mesmo saíram sorrateiramente e não voltaram à fila. Espreitam. A casa continua a mesma. Continua a ser agradável lá ir. Mas só dá atenção aos que ficaram de pé.
segunda-feira
Aprendendo
Um tempo para começar, um tempo para aprender e outro para despertar para os factos. Aqui mesmo, neste mundo invisivel é palpável a intenção de conquista, de destronar outrém, de o ostracizar se possível. Tão silenciosamente como a morte a chegar, fria. Mas sacuda-se esta tenebrosa imagética e o que se tem? Despertar por ter aprendido os factos. Pois é: É que o aprendizado é para todos e quem presta atenção nas aulas é que tira boas notas.
domingo
Ídolos&fãs
Não os tenho. Nem mesmo lembrança de os ter tido na adolescência. Comovi-me, aplaudi e gritei como todos os demais da minha idade quando o produto era bom. Saio fora de moda quando mantenho ainda o apreciar, a pele arrepiada, por coisas que (ainda) me dão gozo. Mesmo que já ninguém as lembre. Nunca fui fã, nunca idolatrei. Gostei, gosto muito. Tanto, como o silencío de um amor secreto e proibido.
sábado
Seguidores
Não critico nem tal podería fazer por não ter entendimento para me deitar a uma maré e deixar-me ir. Porém, nesta coisa dos blogados já me habituei à idéia de que muito do que é desviado e censurável é a banalidade do hábito, da coisa comum. Parece não ter bastado que se publicasse as preferências de leituras e visitas, impõe-se que se arraste para todos verem quem segue quem. E acabo a constatar que é mais do mesmo, uma nova moeda de troca que parece ter surgido para equilibrar a inflacção das escolhas: Se tu me segues eu sigo-te; Se te atiras ao precipicio eu caio também; Se é altura de juntar o rebanho não serei eu a ovelha negra. Vem-me à memória uma música que tanto gosto... Aprende a nadar companheiro.
sexta-feira
Glórias ou nem tanto
A propósito de solidão. Da glória da solidão da escrita. Blogados de âmago que se atiram à folha branca, implacável. Uma folha tão cruel quanto um espelho que revela todas as imperfeições da carne, das feições. Há quem considere que é exactamente o contrário, essa brincadeira de fazer de conta que se é outro não permite a quem lê descobrir as borbulhas, as gordurinhas, o mau carácter. Não o creio. Da verdade da escrita, mesmo sem a desvantagem diarista, muito se alcança do dono da pena.
quinta-feira
Re(começar)
Recomeçar de onde se deixou. Qualquer coisa. Pegar no que se largou e achar que quando se voltar se reinicia. Não estou tão certa disso. As vontades, o empenho, o olhar terão mudado todas as circunstâncias. Até a habilidade das mãos terá outra direcção, outro tino, umas vezes pior outras melhorado. Talvez se comece de novo e isso em definitivo, não é recomeçar.
quarta-feira
Lusa paixão
Da raça, era. Agora parece mal dizê-lo. Eu sinto-o, sem vergonha, de peito feito e aberto a quem me olhar e me quiser colocar uma legenda de fascista. Não o fui quando era cómodo sê-lo, não o serei porque não acredito em cercear pensamentos no corpo preso, na boca calada ou permitida apenas ao politicamente correcto. Da raça lusa porque é desta maneira que sou portuguesa, com primor nas caravelas, nos aventureiros, nos de olhos rasgados a horizontes que não se víam nas linhas.
terça-feira
Eu, Túlia
Não gosto quando me engano. Não gosto quando tenho de pedir desculpa. Mas faço-o. Da forma mais orgulhosa que consigo em transmitir esse pedido de perdão, de cabeça erguida, reconhecendo o meu erro, a minha teimosia. Nunca tentei disfarçar um pedido de desculpas. Aliás, acho que não sería capaz de o fazer, acabaría a gaguejar, a meter os pés pelas mãos e a irritar-me profundamente comigo mesma por estar a ser o que não sou. Por vezes crua, brutal. Sou eu.
segunda-feira
Oportunidades
A propósito de ocasiões, negócios que surgem quando menos é expectável e se tornam irrecusáveis pelo encanto. A propósito de relações, algumas como negócios de oportunidade, um agarrar porque dá jeito, um prender porque atrás vem mais alguma coisa, algum lucro, um proveito que mais tarde saberá a demasiado ou a incómodo e se arrota com azia. A questão é saber quando esse momento tão oportuno surge, evitá-lo, ou na melhor das oportunidades virá-lo contra o oportunista.
domingo
Reconditamente
Reconcilio-me aqui. Zango-me comigo mesma aqui. O melhor escape é poder fazer o barulho todo que me apetece ou manter-me no silêncio sem ter que atender a respostas, explicações. Ir e aqui regressar quando apetece, quando os bocados dos meus sonhos se misturam na realidade ou não completamente nesta ordem, o exilio é a melhor paz.
sábado
Gracinhas
Sendo o meu mundo feito de letras sería normal não ligar aos números. Mas a minha relação com eles é cabalística, associativa. Na verdade, infantil. Como hoje. A quantidade de dias igual ao número dos meses passados. E no próximo mês será a sete que fecharei este circulo mágico ao mês de Julho e assim por diante. Como se esperassem um pelo outro para se fortalecerem. Como se assim eu descobrisse um poder maior nos algarismos idêntico ao que atribuo às letras. Isto não passa de blogados de alucinações minhas, um viajar pelas cogitações pueris de que tudo tem uma razão de ser.
sexta-feira
A noite e as noites
À noite. Seja na noite da noite seja na das manhãs. É sempre lá que encontro os meus pedaços e os junto todos num braçado e volto a distribuír pelo meu corpo, cada blogado no seu espaço devido, a cumprir as funções para que nasceram. É à noite que eu sou eu e me dou com os outros, que eles partilham a sua vida comigo, que falam para o meu reflexo na tela do computador ou para o sombreado das minhas pestanas a recortarem no papel branco de linhas azuis fininhas. À noite tudo se resume, tudo se percebe, tudo se agiganta. Não há momento do meu dia que seja tão poderoso quanto o encontro do verbo comigo.
quinta-feira
A quem interessar
Sempre me incomodou os destinos das obras de grandes artistas, o que eles escreveram ou pintaram e os seus últimos desejos como legado doloroso a quem cá fica para pôr um fim sem rasto ao que de suas mãos nasceu. Mais que um incómodo acho que se tornou em mim uma perturbação: Porquê se essa foi a sua vida matá-la por duas vezes, seja na morte do autor seja no suicidio da sua obra? Mas quando penso o que serão destes blogados se alguma coisa intempestiva me acontecer sem eu ter tempo para determinações, vejo-me a caír na mesma tentação de pedir que queimem tudo sem deixar vestigio.
quarta-feira
Bocados de mau feitio
A propósito de famas. A propósito de nos tornarmos por vezes, na fama que fazem de nós. E não me remeto ao velho ditado popular do já que tenho a fama terei de ter o proveito. Mesmo que este consolo seja envenenado. Mas como parece ter de cumprir-se um destino, autoinflige-se, nem sempre arcando racionalmente com as consequências. Isto tudo a propósito de me chamarem mau feitio. Que acho que o não tenho. Óbvio. Mas tenho a noção de que é diferente e como tal poderá ser dificil. Mas daí a assumir um feitio distorcido, atarrachador, niquento e repelente só para cumprir o jus à boca cheia, não me parece que trouxesse vantagens aos bocados do meu sentir. É que importante mesmo é que se cumpra o que se diz com o que se faz, o que a boca cospe com o que a boca beija.
terça-feira
Perguntar
A propósito de perguntas que se fazem aos outros naquele tom social de inicio de conversa mas que na generalidade não escutam a resposta. E no seguimento, já engatilhado o tema, a continuidade das perguntas com o intuito de falar do que se quer e não do que se quer saber do outro. Aliás, ao outro responde-se um pois, e segue-se adiante com o que interessa vazar. Será falta de educação, desinteresse, necessidade de um ouvido atento? Ou maldade? Seja o que for, recuso-me a participar destes jogos e geralmente fico calada para não alimentar estes bocados de umbigo.
segunda-feira
Dia 1
No dobrar do ano velho um novo ano que se abre a mais blogados, haja sentir para os sentir e sentir para os escrever. Nada mudou. É só o tempo numerado que engana. A quem se quer enganar. Apesar de não incorrer nesse logro, não me convenço desta permanente lucidez. Também ela me serve de tinta ou de justificação para coisas mais ousadas como falar de mim mesma. Ou de outros. Dizem que todos de mim com a mesma marca, mas não sabem de nada, essa é a verdade. E ainda bem que assim é.
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