quinta-feira

Conselhos

Guardo religiosamente para mim estes bocados. Não são segredos, não são intimidades, não servem de confessionário, mas são um exercício de escrita e de auto-reflexão. Apanhada um dia destes a rabiscar algumas considerações não sobre os blogados, mas sobre um texto que aqui não vem ao caso, dizia o "intrometido" com ar surpreso, que não fazia a mínima idéia que eu escrevia. Que só me sabía leitora, pois sempre me vía com um livro. Mas já que me tinha descoberto o segredo e até me denotava qualidade, que eu aceitasse uma opinião de um leigo. Pois não, por quem sois. Um leigo. E eu, não sou escritora. A partir daqui, passou mais de uma hora em que debitou um discurso sobre ele mesmo, as sua capacidades de escrita - que eu desconhecía - e que eu tomasse como exemplo os erros dele e não caísse nas mesmas tentações, que até tería o maior prazer em mostrar trabalhos seus, combinarmos e ajudar-me nesta tarefa se eu entendesse levar este caminho de forma mais séria. Não sei se o meu rosto denunciou a minha surpresa, o meu enfado ou simplesmente mandou uma mensagem a dizer vai-te embora. Sei que assim que ele partiu, rasguei a folha onde havía escrito o esqueleto do texto e que para mim não tinha a menor importância até ele o ter lido. Depois, era um pedaço de papel conspurcado que atirei para os reciclados.
 

sábado

Festa&Arrependimento

Há um pedaço de mim que diz para não me incomodar, ser civilizada, e outros blogados, talvez básicos, que se enfurecem e gesticulam, fazem aliás, tanto barulho quanto o vizinho que a deshoras permanece numa festa, bate com os pés, as palmas, gargalhadas, música em decibéis proibidos. Serei só eu a mais os meus bocados a revoltar-me ou os outros vizinhos estarão acaso surdos que não escutam o projecto de Dante que vai no prédio? Justiça feita, alguém chamou a autoridade e o fim da festa para uns foi o começo de uma noite santa para outros. Mas não para mim. Que fiquei a remoer neste conceito. Ou talvez não, que provavelmente a adrenalina da ira já me tinha afastado de Morpheus. O que seja, mas vem isto a propósito, da festa do vizinho e da sua alegria. E da minha prisão e dos demais condóminos desrespeitados nas suas liberdades de descanso à 1 da manhã. Quem celebra a hora tardia decerto deve ter motivo assaz forte para o fazer. Uma certa dose de remorso tomou-me a meias com o dramatismo de uma cena fabricada na minha mente pelo vizinho a ser levado pelo agente policial, algemado como um criminoso, enquanto nós, os outros batíamos palmas. Onde começa a liberdade e termina a festa?