segunda-feira

Sentar-me

A propósito de expectativas. Do que se formula colado ao bocado de pessoa que conhecemos. (Pois que nunca a conhecemos toda, toda). A propósito do baque da descoberta e da consequente desilusão, ou mera ilusão do nós sobre o outro, ou a projecção da idealização, ou o endeusamento terreno à semelhança do que se aspira. É um cansaço que se me abate, derrota-me a força das pernas, obriga-me a sentar.

domingo

Programar

Apesar de me exercitar nas medida das letras, não me contenho na verberância do que sinto. Apenas não explodo. Não pretendo que os blogados - embora do sentir aqui se exibam fiapos - sejam uma sangria do que me vai por dentro. Afinal a análise de si mesmo é dos maiores e mais dificeis actos de contricção para quem escreve. Tão mais fácil falar de outros, inventar, fingir e fazer de conta. Parece mas não é, não me programo para exprimir condicionada o que do todo os bocados fazem de mim. Tento conhecer-me, ver-me por dentro, descobrir se tenho botôes que me liguem ou desaccionem. Mas parece que não fui dotada deste sistema...

sábado

Até quando eu quiser

Estarei nestes bocados até o racional me mandar parar, sem abusos da paixão ou da lágrima pelos outros blogados. Não farei daqui o confessionário nem de forma alguma o muro das lamentações. O objectivo é expôr os retalhos do sentir, não os sentir. Até eu ser capaz.

sexta-feira

Vacinas

Redigir palavras neste todo não significa que os blogados se façam de sentenças cruas e sem sentimento. É um exercicio de contenção, de apuramento dos meus pedaços. Se da verdade apenas eu os leio decifrados, há muito de vantagem nesta encriptação com que os faço, imunizo-me inoculando o veneno que me podería levar de arrasto a uma paixão pelos outros pedaços que espalho em sentires, olhares, mãos dadas. Aqui não quero amor.

quinta-feira

A poesia

A necessidade de me reverter na poesia contrabalança na seriedade quase asséptica com que escrevo estes blogados. Há pois dentro de mim o oposto de dois, um mimo que me faço através do amor, da paixão, da sedução com que as artes poemares me adoçam esta veia esticada e tensa como uma corda de guitarra em que toco o fado de ser pedaço de pedaços. Não serei menor num lado e maior no outro. E nada é tão exacto quanto o ser-se sempre assim ou assado. A riqueza de viver-se está residualmente acrescida se se souber ser das duas metades. Talvez por isso a saudade da poesia me apele. Forte. E de novo.

quarta-feira

Ciclos de vida

Tantas vezes abrando quantas as que me deito numa velocidade extrema, ímpar. Tantas vezes me canso quantas as que a genica me espicaça. Tantas vezes penso na morte quantas as que sorvo a vida a largos goles. Tantos são os todos quantos os blogados que de mim se fazem.

terça-feira

Venenos

Exarcebadamente. Empola-se nestes blogados meus os pedaços que de mim fazem o todo de Túlia. Porque nos blogados é assim que se vive, que se é. Nada se faz pela suavidade ou gentileza. Há que viver rápido e intenso. Multiplicar-se o minuto pelo dia. Amar à primeira palavra, desejar a morte às primeiras reticências. Por vezes sinto que me devoro a mim própria. Por vezes sinto que me vicio como os outros. Por vezes sinto que os blogados me fazem mal.

segunda-feira

Corromper

De quando em vez aparece alguém verdadeiramente arrojado, diferente, quase puro na brutal essência. Merece aplausos, contemplação, extase. Mas de uma forma ou de outra, passado algum tempo e depois de alguma resistência, tornam-se vulgarizados e passam a ser muito do mesmo. Humanizam-se. Deixam-se corromper pela coisa terrena e agrupam-se num todo que não os diferencia. Cedo se esquece que um dia foram "aqueles".

domingo

Blogados de saudades

A propósito de saudades. Não de outros mas de mim. A propósito de saudades do que fui e do serei se a vida me der tempo para isso. A propósito de saudades dos bocados em que me faço e me transformo, dos que já arrumei, dos que espero vir a tirar da gaveta um dia destes, dos que ainda pululam mal formados como blogados de um todo que nunca deixei de respirar.

sábado

Um vezes muitos

Ser um blogado de si equivale a ser outros de metades que se fazem num todo. Esta equação multiplicada por muitos e por muitas vezes dá um produto que depois de sintetizado equivale a uma fórmula bem simples: somos poucos que nos desdobramos em muitos.

sexta-feira

Solitudes

Alguém em tempo passado me disse que isto era caso de solidão. Que por aqui se cruzavam numa espécie de clube do Lonely Heart Club's Band. Na altura achei que não e defendi a minha tese. Mas como todos somos constituídos de bocados de sim e de bocados de não, vejo-me agora confrontada com uma minha verdade oposta e afinal tão certeira como a primeira defendida. Há sim, notórios casos de abanadono por aqui. Seja de outros a um, seja de si mesmos dentro de si. Procuro-me em qualquer destes dois. Não me acho. Nem mesmo um blogado que seja, um pequenino que seja...

quinta-feira

Balanço

Ao fim de pouco menos de meio ano nesta actividade introspectiva e reflexiva achei-me no sentir de outros, de outras, sofri as suas dores, acenei nas suas despedidas, alegrei-me pelas suas vitórias e também pelos falhanços de alguns, criei laços de quase amizade, consciencializei-me de maldades que nada têm de virtual. Doem da mesma forma que no mundo de fora magoam. Até talvez mais porque aqui não vemos o olhar, não adivinhamos. Mas aprendo rápido e bem. Ou mal. Que a desconfiança é elevada ao quadrado e por aqui não reservo a ninguém o benefício da dúvida.

quarta-feira

Só para mim

Do todo e aos blogados só interessa a mim, só a mim me faz falta, só eu sei descodificar o que vai nestas linhas. Afinal, tantas verdades tão verdadeiras que se soubessem não lhes acharíam alucinações ou um mero exercicio de escrita. Retalhos do que realmente sou.

terça-feira

O galeão

Se de inicio me achei nestes blogados como caminhos a fazer para me conhecer melhor, as viagens que faço só me aportam a enseadas tumultuosas e cheias de rochas afiadas que me cortam o galeão onde me faço ao mar. Acabo por ser pirata e por ser refém de pedaços de mim mesma. Na verdade, não sei se me tornei melhor, se gosto da figura de vilão ou se cedo à donzela indefesa. Na verdade, os retalhos do que sou são um misto explosivo que aparece à tona de água em cachões elevados que espirram à vez, um e outro. O galeão afunda-se, mas lentamente.

segunda-feira

Mais uns bocadinhos

O que custa nos amores virtuais é que nunca passarão disso e se de incio é esse o engodo e se pode dourar a pílula, logo aparecem as mesmas comezinhas instruções da vida real. Depois, a virtualidade destes amores não se compadece com o tempo e tudo é desmesuradamente agigantado quer na entrega quer no choro. Ama-se loucamente, odeia-se desvairadamente. Quantos bocados de vida à séria se fazem deste blogados de sentir. Tantos retalhos, mas tantos, tantos...

domingo

Restos

A propósito de usos. De reciclagens. De gastar de uns e de outros, dos seus humores, disponibilidades, apetites, amores, ciúmes e vendettas ao melhor estilo mafiosi. A propósito de trocas, se me dás eu também dou, se te excusas dou-te amargos. A propósito de outros chegarem e colherem os pedaços que restaram, já muito escolhidos, muito dentados e cheios de quilometragem. De fazerem sentir que estão felizes com os bocados que lhes tocaram em sorte. Mas que no dia que esses blogados se encherem de cobranças, serão o desdém de muitos repartidos e do todo não sobra nada.

sábado

Espelhado

Destes blogados como superficies lisas, brilhantes e reflexivas. De si, do eu. De mim. Do que acho. Sem pragmatismos, muitas dúvidas até, uma concepção da natureza da pergunta, dois pratos para um sim e um não. Se de inicio encontrei nestes retalhos a possibilidade de me mirar e ver-me do outro lado do espelho, a imagem que me ofereço ainda se carregou de mais porquês. Não busquei certezas mas procurei o equilibrio do que me pende para um bocado ou para outro. Ao fim deste tempo aquilo que mais aprendi foi a esmiuçar, a desfiar ainda mais a interrogativa e do espelhado encontro o meu eu blogado.

sexta-feira

Bichos

O ciúme mata. Não de uma forma limpa e eficaz, pela raíz. Mata em crescendo. Mina. Corrói. Alastra-se e pega a outros territórios, outras gentes. Gera dor e desconfiança. Dor e remorso. Dor e morte. Apaga lumes. Esvazia conteúdos, tira vontades e afinal sendo um tanto não é de todo um todo.

quinta-feira

Cacos

A propósito de não saber. E do velho ditado "Quando não sabes está calado", porque senão ou entra mosca ou sai asneira. A propósito de dar a entender que se sabe de tudo. Mas nem de um pedaço se arranha. Finge-se. E como para fingir também é preciso arte, acabam estas esculturas virtuais por se deceparem no seu próprio pedestal, que de tanto inventarem pedaços, embrulham os pés pelas mãos e o que resulta são cacos. Verdadeiros blogados espatifados.

quarta-feira

Bocados de lobo e bocados de ovelha

É profundamente surpreendente o que se pode achar por aqui. Os que parecem menos dotados acabam por ser os mais simples e logo, os mais ricos na sua essência. No lado oposto aqueles que se assemelham a víveres de 2ª categoria e para engano do palato vá de carregar no condimento.
É profundamente surpreendente encontrar alguém que não misture os bocados do projectar com aquilo que é na verdade. E depois é assistir, tal como eu, a liberar apenas blogados, não vá o diabo tecê-las, ou melhor engolir-nos como ovelhas descuidadas.

terça-feira

A selva

A imagética deste mundo é ainda menos contemplativa e apaziguadora do que a real. Por isso se transformam ninharias em tesouros dentro de arcas. A quem souber o segredo da combinação, o prémio para chegar ao sentir. Mas se se demorar a abrir o espólio, o próprio dono trata de revelar pistas até ao coração. Precisa de ser desvendado, despido, quase torna esse o objectivo deste bocados dados intermitentemente como pedaços de comida às feras. Só que os predadores rondam o cheiro a sangue e o bando de hienas aproxima-se cauteloso, esperando a refeição descuidada. Esta selva virtual oferece tesouros, fruta fresca mas também bichada e podre e na moita, o caçador, preparado, à espreita, ao menor deslize abate o animal.

segunda-feira

Variações sobre escrever

Escrever. Revelar-se. Rebelar-se. Acrescentar. Enriquecer. Distribuír. Partilhar. Consumir. Alimentar-se. Fortalecer-se. Descobrir-se. Desdobrar. Multiplicar-se. Desvendar-se. Do Todo e aos blogados. Bocados do sentir, retalhos de eus que do todo se alimentam e fortalecem outros.

domingo

Filosofar

Não há liberdades condicionadas. Ou se é livre ou não. Ou se vive ou se vegeta. Ou se é pedaço ou se é um todo. Mesmo que este todo seja um tudo de bocados que se formam de liberdades. E a liberdade começa no pensar. Do pensar ao sentir. Do sentir ao agir. Condicionado? Um número infinito que leva ao inicio destas palavras e se deita até percorrer todos os caminhos do pensamento ágil e se une ao começo.

sábado

Blogados de vida

A propósito de amores. Dos virtuais. A propósito de quem se apaixona por estas linhas sem rosto nem toque e agarra mãos invisiveis entre imagens e palavras. Que são bocados do que se gostaría de ser. Não obrigatoriamente pedaços de verdade real. Blogados. Em toda a sua essência. A propósito de ciúmes, despeitos e outras guerras que de virtuais acabam por ser sentidas na carne real. A propósito de solidões que vivem este mundo como o único verdadeiro e sentido, fazendo de alguns minutos a vida de um dia.